Um bocadinho na onda do último post, deixo aqui, de forma breve, a minha visão do que deve ser uma arbitragem de um jogo de camadas jovens. Aqui já começo a excluir os juvenis (às vezes também iniciados...) em competições nacionais, porque já são equipas muitas vezes bastante evoluídas e com mentalidade de "précompetição". Até aí, venha quem vier, são crianças.
E é isto que mais me incomoda neste particular. Dirigir hoje um jogo de iniciados ou infantis (já nem falo de menos que isso) é mais difícil do que dirigir o mesmo jogo há 10 anos. Os atletas têm menor noção de autoridade e respeito pelo próximo. Muitos não reconhecem o árbitro como elemento condutor do jogo e dos jogadores. É frequente vermos miúdos a responder torto e em tom desafiador, isto para não mencionar as situações em que pura e simplesmente ignoram o que o árbitro lhes diz.
Não vou entrar em conjeturas sobre o que pode estar por trás desse comportamento ou do grau de educação que muitos (não) trazem, mas é-me fácil mencionar casos em que os próprios pais cultivam um mau ambiente dentro de um pavilhão.
No início da minha carreira, ainda eu tinha pouca capacidade para me controlar e a probabilidade de eu ter reações infelizes era maior, aconteceu num jogo de iniciados aqui no norte aquilo que acontece tantas vezes agora: um pai a insultar e a ameaçar tudo e todos, atletas e árbitros. Num momento em que infelizmente explodi, dirigi-lhe a palavra e disse-lhe para ter vergonha daquilo que estava a fazer, porque estava a dar um péssimo exemplo aos miúdos. Nesse momento, um atleta (recordo, iniciado) dirige-se a mim e diz (lembro-me como se tivesse sido hoje...): "Sr. Árbitro, peço-lhe desculpa pelo meu pai. Já lhe pedi para não fazer isto porque me envergonha, mas ele não me liga.". Quem acabou por pedir desculpa fui eu, mas ao miúdo, não ao pai.
Mas por que é que conto isto?
Porque esta postura de quem está de fora, prejudica muitas vezes a postura de quem está dentro. Nestes jogos em que o essencial é promover a atividade física, o amor à modalidade e o espírito de grupo em gente tão jovem, o árbitro deve assumir um papel o mais pedagógico possível, dialogante, não autoritário mas firme. É obrigatório não confundir pedagogia com passividade nem calma com ausência de ação.
Muitas vezes é preciso ser duro. Ser pedagógico é saber desqualificar um atleta se for necessário, com a obrigação de explicar a decisão e conversar com o atleta no final do jogo (se houver igual vontade do conjunto atleta + treinador). É preciso mostrar que o jogo tem regras e limites, e para isso existem as faltas para serem assinaladas e as sanções para serem atribuídas.
Mas também é preciso contornar as regras. Conscientemente.
Num episódio que penso que já contei aqui, num jogo de minis há alguns anos, entrou um miúdo que eu percebi claramente que era a primeira vez que tocava numa bola. Fez logo dribles. Parei o jogo, perguntei-lhe se sabia o que tinha feito, e ele disse a medo que achava que tinha feito falta. Expliquei-lhe a regra dos dribles e perguntei-lhe se queria a bola outra vez. Ele disse que sim e, em jeito de brincadeira, disse que em troca ele não podia voltar a fazer dribles. Não fez. Tive o cuidado de explicar aos miúdos da outra equipa que estavam ali ao lado o que estava a fazer e tive a sorte de ser bem aceite.
Contornei as regras? Sim. Mas ensinei algo a um miúdo que queria aprender. Esse deve ser o princípio que norteia os adultos envolvidos num jogo de crianças tão jovens: ensinar.
Em outra ocasião, há já muitos anos, num jogo de minis ou infantis femininas, o treinador de uma equipa disse às atletas algo como "quando o árbitro explicar alguma coisa a uma, ouçam todas o que ele diz". Em cada paragem para me dirigir a uma atleta, tinha meia dúzia à minha volta. Foi um jogo diferente. Foi um bocado mais longo, porque depois tinha de esperar que elas voltassem ao lugar, mas foi um jogo que me deu um prazer imenso. Senti-me útil e ao serviço da "Formação de Jovens", o que sempre gostei de fazer.
Agora, sempre o lado de cá... todos os árbitros têm capacidade para saber estar num jogo destes? Não. Todos os árbitros serão bem aceites quando tiverem alguma atitude mais pedagógica? Não.
Também é nestes jogos que é preciso lançar os mais jovens e mais inexperientes, e isso muitas vezes resulta em exibições que contrariam tudo aquilo que escrevi em cima. Mas é um risco que temos de correr. Em Aveiro, procuramos acompanhar os mais jovens juntando, sempre que possível, alguém mais velho. Mas muitas vezes, a ocupação nacional dos mais velhos não permite o acompanhamento dos mais novos.
Todas estas questões são muito complicadas e há muitos pontos de vista tão válidos quanto o meu. Apenas apresentei aquilo que defendo, de peito aberto e sujeito à crítica, como sempre vivi a minha carreira.
Mas também é preciso contornar as regras. Conscientemente.
Num episódio que penso que já contei aqui, num jogo de minis há alguns anos, entrou um miúdo que eu percebi claramente que era a primeira vez que tocava numa bola. Fez logo dribles. Parei o jogo, perguntei-lhe se sabia o que tinha feito, e ele disse a medo que achava que tinha feito falta. Expliquei-lhe a regra dos dribles e perguntei-lhe se queria a bola outra vez. Ele disse que sim e, em jeito de brincadeira, disse que em troca ele não podia voltar a fazer dribles. Não fez. Tive o cuidado de explicar aos miúdos da outra equipa que estavam ali ao lado o que estava a fazer e tive a sorte de ser bem aceite.
Contornei as regras? Sim. Mas ensinei algo a um miúdo que queria aprender. Esse deve ser o princípio que norteia os adultos envolvidos num jogo de crianças tão jovens: ensinar.
Em outra ocasião, há já muitos anos, num jogo de minis ou infantis femininas, o treinador de uma equipa disse às atletas algo como "quando o árbitro explicar alguma coisa a uma, ouçam todas o que ele diz". Em cada paragem para me dirigir a uma atleta, tinha meia dúzia à minha volta. Foi um jogo diferente. Foi um bocado mais longo, porque depois tinha de esperar que elas voltassem ao lugar, mas foi um jogo que me deu um prazer imenso. Senti-me útil e ao serviço da "Formação de Jovens", o que sempre gostei de fazer.
Agora, sempre o lado de cá... todos os árbitros têm capacidade para saber estar num jogo destes? Não. Todos os árbitros serão bem aceites quando tiverem alguma atitude mais pedagógica? Não.
Também é nestes jogos que é preciso lançar os mais jovens e mais inexperientes, e isso muitas vezes resulta em exibições que contrariam tudo aquilo que escrevi em cima. Mas é um risco que temos de correr. Em Aveiro, procuramos acompanhar os mais jovens juntando, sempre que possível, alguém mais velho. Mas muitas vezes, a ocupação nacional dos mais velhos não permite o acompanhamento dos mais novos.
Todas estas questões são muito complicadas e há muitos pontos de vista tão válidos quanto o meu. Apenas apresentei aquilo que defendo, de peito aberto e sujeito à crítica, como sempre vivi a minha carreira.