Este é um tema paralelo a todas as modalidades em que o árbitro é um elemento ativo e parte integrante do jogo, como o futebol, o basquetebol ou o andebol, por exemplo.
Muita gente não considera a necessidade de boa linguagem corporal como mandatória para a boa condução do jogo, mas este é um aspeto cada vez mais importante para uma boa arbitragem, para uma gestão bem sucedida de qualquer partida.
Na maioria das nossas atividades profissionais, as soft skills de cada um são um aspeto cada vez mais importante a ter em conta e isso começa logo na fase de conhecimento de um candidato, nas entrevistas de emprego. Por que motivo haveria a arbitragem de ser diferente?
Mas vamos por partes. Vamo-nos esquecer dos aspetos técnicos, disciplinares, regulamentares, tudo aquilo que está escrito no livro de regras. Vamo-nos concentrar nas soft skills que um árbitro deve ter. Para isso, vamos pensar nas seguintes questões:
- Como é o árbitro visto e como são as suas decisões aceites pelas pessoas que estão em campo?
- Como é o árbitro visto e como são as suas decisões aceites pelas pessoas na bancada?
A primeira coisa que o árbitro deve conseguir é inspirar confiança. É fundamental as pessoas saberem que podem confiar em quem tem o poder e a obrigação de tomar decisões, tão fundamental quanto as pessoas saberem que essa pessoa está a tomar as decisões corretas. Mas de que me adianta a mim tomar uma boa decisão se as pessoas olharem para mim de soslaio e não confiarem no que eu faço?
Por isso mesmo, a imagem que o árbitro deve conseguir mostrar é de calma, de serenidade e de segurança. Sem arrogância, de preferência. Aqui é uma questão pessoal, odeio arrogância. Acho que isso só contribui para um distanciamento excessivo, de todo indesejável, entre árbitro e outros agentes num jogo. Qual é o problema em justificar uma decisão, desde que quem pede essa justificação não o faça de modo recorrente? Custa muito explicar rapidamente o motivo de se ter optado por uma exclusão em vez de uma advertência, ou de se ter considerado falta atacante um determinado movimento?
A meu ver, não custa nada, e até ajuda todos os outros intervenientes a compreender os critérios usados pelo juiz da partida.
Esta imagem de confiança é mostrada sem recurso a movimentos mecanizados. É desagradável ver um árbitro-robot. Sentir que um árbitro está atento mas descontraído é o primeiro passo para se confiar nas suas decisões (desde que este depois não se lembre de punir com cartão amarelo um murro na cara, claro...). Ver um árbitro com postura muito rígida é o mesmo que pensar "ok, o tipo está em pânico". Eu confio em alguém que está em pânico? Eu não... Acho que alguém assim pode muito bem tomar excelentes decisões, mas o excessivo estado de alerta pode perfeitamente conduzir a fortes precipitações e maus julgamentos.
Mas aqui há outro aspeto a entrar em ação... qual é o volume de confiança que as pessoas estão dispostas a depositar num árbitro? Muitos olham para o árbitro com eterna desconfiança, porque "já vem pronto para nos roubar", "já vem com a lição estudada", "com este já entramos a perder" ou "os árbitros são todos maus". Vão por mim, é tão frequente escutar isto nos recintos desportivos que se torna assustador!
É preciso mudar mentalidades e confiar no árbitro. É preciso dar sempre um voto de confiança e acreditar que aquela pessoa que está ali para dirigir o encontro vai dar o seu melhor e vai esforçar-se para que tudo corra da forma mais justa possível. Há árbitros maus? Como em todas as atividades na vida, há os bons e os maus. Mas isso não pode afetar o nosso julgamento e a capacidade de confiar.
Pretendo fazer mais alguns posts sobre este tema, pelo que vou continuar a abordar esta questão.
Deixo só uma nota final. Por que é que deixo tantas fotos de um árbitro de futebol neste post? Porque Pierluigi Collina é, para mim, o exemplo perfeito do árbitro que é capaz de se mostrar humano, autoritário, seguro, sereno, confiante, sem arrogância e, acima de tudo, confiável. Nutro profunda admiração por Collina, pela sua carreira, pelo seu estilo e pela sua personalidade, e é, para mim, a referência máxima no que diz respeito à linguagem corporal a utilizar.