domingo, 8 de novembro de 2015

CLAREZA DOS GESTOS E DA SINALÉTICA

Estou a ver o Benfica x Boavista em futebol, e o árbitro Bruno Esteves acabou de exibir um cartão amarelo a um jogador do Boavista. Não conheço a fundo o livro de regras do futebol, mas estava capaz de jurar que o gesto que ele utilizou para justificar a sua decisão, inclusivamente quando o atleta do Boavista o questionou, não está no livro de regras. Mas foi um gesto muito claro, indicando que a sanção disciplinar se deveu à sucessão de faltas e não a esta ação específica.

E por que motivo falo eu disto, ou por que motivo dou um exemplo do futebol?

Porque gosto do Desporto em geral, e penso honestamente que esta é uma questão transversal a todas as modalidades.
Os árbitros não devem reduzir-se aos gestos que vêm mencionados no livro, nem devem ver os que estão ali exemplificados como os únicos que podem fazer para justificar as suas decisões. Pelo contrário, podem e devem usar outras técnicas, mostrar outras formas de explicar a todos os porquês das suas decisões, sem palavras serem necessárias, da forma mais clara possível.

Tive, há vários anos, um observador que, no fim do jogo e no balneário, me atirou com o livro de regras para cima, para eu lhe mostrar onde estava um gesto que eu usei para explicar a um atleta o motivo de eu não ter deixado prosseguir o jogo quando ele manteve posse de bola enquanto sofria falta. Esse atleta deu 4 passos e, claro está, tive de interromper o jogo. Para justificar essa decisão, coloquei 4 dedos no ar de forma visível enquanto disse ao atleta "deste 4 passos". Ele percebeu e todas as outras pessoas também. Esse observador não gostou e acho que até me puniu na nota por causa disso. Mesmo assim, não me arrependi de o ter feito porque "ganhei" as pessoas naquela explicação, por ter usado um gesto claro, explicativo, que todas as outras pessoas aceitaram, e com isso pouparam-me a protestos desnecessários.

A linguagem corporal e a sinalética é muitas vezes relegada para segundo plano pelos árbitros mais jovens e menos experientes, mas os mais velhos e mais rodados já sabem muito bem o valor que tem para a condução de um jogo a clareza de gestos.

Como adepto, como formador e como observador, uma das coisas que mais valorizo num árbitro é a forma como se expressa e se justifica. Não é preciso falar demasiado nem "dar conferências de imprensa" a toda a gente. Tem de falar o necessário e usar a sinalética adequada para cada situação. Mesmo a que não consta no livro de regras.