Já fiz aqui mais de 300 posts e este é, com toda a certeza, o mais difícil.
Chegou ao fim a minha carreira como árbitro de andebol, ontem, dia 17 de maio de 2014, em Lisboa, no Benfica x Sporting. A sensação é muito difícil de descrever. Por um lado, a certeza de ter dado sempre o meu melhor em todos os momentos. Por outro, aquela brutal sensação de perda de parte de mim, parte integrante da minha vida desde 1998.
Verdadeiramente difícil não foi ontem, quando me senti sair para o balneário no fim do jogo. O pior foi hoje, ao acordar, e para a semana, quando começar a ressacar pela falta de jogos. Mas tudo tem um fim, e decisões têm de ser tomadas. Foi este o momento que eu e o Bruno escolhemos para o fim desta etapa e para a tomada da decisão mais difícil das nossas carreiras.
Tenho pavor de me esquecer de alguém neste agradecimento público.
Tenho primeiro de agradecer às nossas famílias o apoio que nos foram dando ao longo de 16 anos. Nós temos consciência que os momentos em que nos serraram a cabeça em protesto pelas nossas ausências, foram só porque nos queriam ter mais tempo convosco. A Arbitragem leva-nos os fins de semana e tantas vezes os dias de semana, mas nós não controlamos o prazer de Arbitrar... faz parte de nós!
Aos nossos amigos, obrigado por não deixarem que as nossas ausências estraguem a nossa amizade, e por esperarem até 1 ou 2 dias antes do fim de semana para terem as nossas respostas aos vossos convites. Aqui, obrigado por aceitarem incontáveis vezes o nosso "não posso, desculpa, tenho jogo".
A todos os jogadores, treinadores, dirigentes e todos os agentes desportivos com quem nos cruzámos, obrigado pelas vivências que nos proporcionaram. Todos foram imprescindíveis na nossa vida de árbitros e foi um privilégio partilhar tantos momentos convosco. Com certeza, em alguns jogos tivemos erros que vos prejudicaram. Desculpem por isso, o erro é presença constante na vida de um árbitro e temos de lidar com ele em todos os jogos, porque está sempre à espreita. Um olhar para o local errado, uma pequena desconcentração, um azar, um mau timing... e lá está ele. Sempre quisemos dar o nosso melhor, sempre respeitámos as vossas equipas por igual, dos veteranos aos minis, da 1ª divisão ao regional.
A todos os árbitros com quem aprendemos continuamente durante 16 anos, e a quem ousamos ter ensinado alguma coisa, enviamo-vos um abraço muito forte. Aproveitem o Andebol e a Arbitragem. Não se limitem a ir aos jogos e ir embora. Convivam, ganhem experiências, façam amigos... abram horizontes e percebam que o Andebol é muito maior do que pensam. Eu e o Bruno saímos desta etapa com tantos e tantos amigos novos e confirmados, entre árbitros, atletas, treinadores, dirigentes e adeptos, porque um dos nossos méritos sempre foi sabermos extrair o sumo de todas as situações e aproveitarmos tudo para o enriquecimento pessoal, de mãos dadas com o enriquecimento desportivo.
Quero aproveitar para enviar um abraço muito apertado ao meu amigo Jaime, que na altura, lá para 1999, ainda eu não apitava com o Bruno, perdeu muitos dos seus fins de semana para pegar em dois putos imberbes e ter dito que havia de fazer de nós árbitros. Jaime, conseguiste. Muito obrigado!
Quero também agradecer à Federação de Andebol de Portugal e à Associação de Andebol de Aveiro por todos estes anos que passaram e outros tantos que estão por vir, pelas experiências que proporcionaram a dois bons amigos que um dia disseram que iam tentar ser bons árbitros. O nosso serviço ao Andebol e à Arbitragem vai agora entrar por uma nova via, mas está muito longe do fim.
Uma palavra muito especial à Nádia e à Ana, por serem invariavelmente os pilares da minha vida e do Bruno, respetivamente, e por perceberem que sem Andebol seríamos e seremos sempre pessoas menos felizes e seguramente menos completas.
Por fim, o meu evidente agradecimento muito pessoal ao Bruno. Crescemos muito como dupla e como amigos, passámos de dois putos tantas vezes estúpidos e imaturos a dois homens de vidas feitas, e na nova etapa iremos continuar a trabalhar juntos e em sintonia, em prol do Andebol e da Arbitragem, como sempre fizémos. Muito dificilmente pode haver uma boa dupla de arbitragem sem uma boa amizade como suporte. Não sei se fomos uma boa dupla, mas com certeza somos grandes amigos. Só por isso, todos os sacrifícios que passámos já valeram a pena.
O nosso futuro passará por continuar no Andebol e na Arbitragem, mas fora das 4 linhas. Fechámos uma porta, mas abrimos outra. Enquanto sentirmos que somos úteis ao Andebol, podem contar connosco.
O futuro deste blogue, deixo nas vossas mãos, leitores que me foram lendo ao longo de já quase 6 anos. Por mim, continuarei a dar as minhas contribuições, assim vocês me continuem a julgar válido e com a necessária competência para assumir esta responsabilidade.
Estou a despedir-me desta função, mas não da Arbitragem. E seguramente nunca do Andebol.
Por isso... até já!
Por fim, o meu evidente agradecimento muito pessoal ao Bruno. Crescemos muito como dupla e como amigos, passámos de dois putos tantas vezes estúpidos e imaturos a dois homens de vidas feitas, e na nova etapa iremos continuar a trabalhar juntos e em sintonia, em prol do Andebol e da Arbitragem, como sempre fizémos. Muito dificilmente pode haver uma boa dupla de arbitragem sem uma boa amizade como suporte. Não sei se fomos uma boa dupla, mas com certeza somos grandes amigos. Só por isso, todos os sacrifícios que passámos já valeram a pena.
O nosso futuro passará por continuar no Andebol e na Arbitragem, mas fora das 4 linhas. Fechámos uma porta, mas abrimos outra. Enquanto sentirmos que somos úteis ao Andebol, podem contar connosco.
O futuro deste blogue, deixo nas vossas mãos, leitores que me foram lendo ao longo de já quase 6 anos. Por mim, continuarei a dar as minhas contribuições, assim vocês me continuem a julgar válido e com a necessária competência para assumir esta responsabilidade.
Estou a despedir-me desta função, mas não da Arbitragem. E seguramente nunca do Andebol.
Por isso... até já!
16 comentários:
Caros Amigos. Que vos hei-dizer? Seguramente nada de novo... Que fazeis falta... Que é uma pena saírem tão novos... Que poderiam continuare mais alguns anos... Mas se essa foi a vossa decisão, temos de a respeitar, na expectativa de, como dizeis, continuareis ligados ao Andebol. E, se assim for, fica a cérteza de que sereis, em noveas funções, tão importantes como na carreira que percorreste até agora. Um abraço e até sempre.
TINOCO MARQUES
Desejo vos as maiores felicidades. Sao um exemplo. Peco te que mantenhas o blogue. E muito util. Um abraco, luis paulino associacao andebol de lisboa
Carlos, a tua distancia será apenas física pois o espirito do Andebol vai estar sempre ctg e quem sabe daqui a uns anos não regresses..... Boa sorte para esta nova etapa. foi um prazer estar ctg em campo quer como colega quer como jogador.
Muito obrigado aos três.
São daquelas decisões que têm de ser tomadas, e não há alturas ideais para as tomar... continuaremos a servir o Andebol.
Grande abraço!
Apesar de poder ser interpretado como anónimo, não sou e estou completamente identificado, sou o v/amigo pelo menos eu assim os considero Henrique Silva, percisamente aquele um dia em Setubal, com vocês esteve na altura da vossa estreia nas provas da extinta liga, na companhia e posso falar por ele outro vosso grande amigo de nome Fernando Silva, e dizer que sinto desde já uma enorme saudade da vossa forma de estar educada e não arrogante, mas firme por vezes, como deve ser.
Vocês são daqueles que deixam saudades, e eu agora noutras funções apenas posso desejar muitas felicidades aos dois nas vossas vidas pessoais e que o andebol ainda espera por vocês, despeço-me com um até breve.
Henrique Silva
que pena...tou realmente triste... fonalmente acordaste para a vida e tomaste uma boa decisão !! obrigado capela
"Fonalmente" isso aconteceu... um abraço, caro anónimo.
Amigo Henrique, lembro-me perfeitamente desse Vitória de Setúbal x Ginásio do Sul, se não me engano em 2002.
A nossa forma de estar não é só uma questão pessoal. Foi, também, algo que optámos por ir apreendendo ao longo do nosso percurso no andebol. Iremos, com certeza, tentar transportá-la em novas funções que assumiremos.
Tenho de lhe agradecer as suas palavras. Vindas de quem vêm, têm um significado imenso para mim!
Envio-lhe um abraço muito forte, e peço que entregue também um grande abraço ao Fernando Silva.
Até breve.
Sr. Eng., talvez fique um pouco fora do tópico, mas não me vai levar a mal de certeza, e até poderá ser um contributo para esta sua (e do seu companheiro de dupla) nova fase no Andebol:
Durante uma temporada, 2001-2002, tive o prazer de ajudar o Prof. Fernando Maurício Ribeiro (irmão do saudoso Prof. Manuel Ribeiro) a orientar as Seniores Femininas do Porriño (Galiza), que tinham acabado de descer da Divisão de Honor (a principal) para a 1ª Nacional, nomeadamente gravando em vídeo os jogos disputados em Porriño para o Professor analisar os erros cometidos em cada um dos jogos. Tratava-se duma equipa que só tinha ficado com uma jogadora sistematicamente titular da época anterior (a Portuguesa Paula Regina Ferreira, essa mesmo, de Espinho, que jogou imensos anos em Espanha), e o restante plantel pouco tinha jogado nos anos anteriores, ou estavam emprestadas a clubes da região, ou tinham acabado de passar de Juniores para Seniores, sendo que veio uma atleta connosco de Esposende para lá, mais precisamente a Cláudia Novais (que na época seguinte foi para o Madeira SAD). Ou seja, era um plantel que nada tinha a ver com a equipa do ano anterior, sendo que essa tinha descido de divisão.
O objectivo declarado pela Direcção ao Professor Maurício. Ele aceitou, até porque não conhecia bem o nível da 1ª Divisão Nacional de Espanha, não conhecia bem o plantel (excepto as 2 Portuguesas, claro está) e as gentes de lá.
Aconteceu que correu tudo pelo melhor, a equipa só não subiu por 1 golo num play-off que disputou contra o antepenúltimo da Divisão de Honor, com uma equipa que duvidava da sua sombra ao início, mas que no final até eram capazes de enfrentar o campeão europeu. E um dos factores foi a presença em todos os jogos, no banco da equipa, dum ex-árbitro da ASOBAL, como dirigente (era mesmo da direcção do clube). Sr. Eng., foram muitas as vezes que vi que as opiniões dele eram encaradas pela dupla de arbitragem duma maneira bem diferente em relação aos outros directores (oficiais, como se diz agora) que se dirigiam à dupla da mesma forma. Notava-se perfeitamente que olhavam para ele como uma referência, tipo "se ele diz isto, é porque é". Muitas vezes, eram árbitros dos colégios (como dizem em Espanha) das federações autonómicas que iam arbitrar os jogos, não eram do quadro da RFEBM, pelo que a opinião dum ex- árbitro da ASOBAL, mesmo quando se estava no meio do País Basco, num pavilhão cheio de fanáticos da equipa da casa, era tida em muita boa conta ...
Só para esclarecer a minha mensagem anterior, o dirigente do Porriño ex-árbitro da ASOBAL dirigia-se às duplas de arbitragem numa atitude de correcção técnica de arbitragem, com linguagem claramente de técnica de arbitragem, tipo "olhe que você deve colocar-se melhor na linha de baliza pois como está não vê bem a acção da defesa contra o pivot", "que, pelo artigo X do Regulamento Y, a acção Z deveria ser sancionada com 2 minutos em vez de cartão amarelo", etc ... Coisas do género, mais técnicas de arbitragem, típicas de quem conhece o que é arbitrar jogos. Claro que ele falava mais nos lances que prejudicavam a sua equipa, afinal estava ali como director e membro da direcção do clube da sua terra, mas também falava de lances a favor da outra equipa ... Mesmo que quisesse dizer o nome dele, só me lembro que se chamava Carlos.
Atenção que esse facto ajudou bastante, mas os resultados que aquela equipa obteve devem-se essencialmente à equipa, não houve favorecimentos.
O grande trunfo foi que o Professor Maurício pôs aquela equipa a jogar à ABC de Donner, quando, naquele tempo ainda mais que agora, as equipas espanholas eram conhecidas por não gastarem muito tempo em ataque continuado. Ora, num campeonato de 12 equipas amadoras, quando 1 delas joga num estilo diferente das outras, os treinadores das restantes equipas vão preparar as suas equipas para jogar contra o estilo "esmagadoramente" maioritário, logo não conseguiam preparar muito bem os jogos contra nós, daí as imensas dificuldades que tinham quando nos defrontavam, sendo que, para além disso, havia uma pessoa que ia gravar os jogos do adversário que tínhamos na ronda seguinte.
O blog vai continuar, certo?
A melhor sorte...
É com mágoa que vemos saírem duas grandes pessoas da arbitragem Nacional. Saem pela porta grande e nós treinadores/dirigentes apenas temos a expectativa de que ajudem a surgir novos e bons árbitros como vocês eram. Mais do que bom árbitro, eras um bom ser humano e conseguias sempre encontrar uma forma educada e apaziguadora de resolver todos os problemas.
Um muito Obrigado, por vocês(árbitros) nos ajudarem também a nós treinadores a crescermos.
Um grande Abraço
João Silva
C.D.Feirense
Peço desculpa pela demora na resposta.
Jorge, compreendo o que me diz. É verdade que muitos árbitros, especialmente se forem jovens e/ou menos experientes, vão encarar como verdadeiro o que alguém que eles têm como referência lhes diz.
No entanto, devo dizer que não concordo nada com essa postura, quando levada a cabo em campo. Sugestões e dicas, vindas de um elemento de uma equipa, seja ele quem for, nunca devem acontecer em campo, mas sim fora dele.
Anónimo de 28 de Maio de 2014 às 21:56,
sim, em princípio o blogue irá continuar.
Muitas pessoas me pediram para o fazer, pelo que devo continuar, sim. :)
Obrigado!
João, muito obrigado pelas tuas palavras.
Sabe muito bem sentir que, no fundo, deixámos um pouco da nossa personalidade em campo. Vamos tentar ajudar na formação de novos árbitros que possam ser ainda melhores do que nós. Ficarei feliz se isso acontecer.
Um grande abraço!
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