segunda-feira, 27 de julho de 2015

VISÃO PESSOAL SOBRE JOGOS DE CAMADAS JOVENS

Estamos em tempo de férias do andebol de pavilhão. Precisamente por isso, não me vou perder em conversas sobre regras, porque ninguém está, sequer, para aí virado.
Hoje deixo uma pequena reflexão, à imagem do que já fiz em outras ocasiões, sobre jogos de camadas jovens.

Tive o prazer de, nesta fase final da época, acompanhar muitos jogos de minis e infantis, não só no Garci Cup, mas também no Encontro Nacional de Minis. No papel de um dos responsáveis da arbitragem e de formador de árbitros, acabei por ver jogos destes às dezenas. E neles, assisti a muita coisa.

Não nego a confusão que me faz ver treinadores e responsáveis de equipas a encararem estes jogos com sede de vitória. Até posso estar errado, mas acho sinceramente que não estou, mas estes jogos deviam servir para as crianças se divertirem e ganharem o gosto pela modalidade e pelo jogo em equipa. Deviam servir para se fomentar o espírito de fair play e de respeito pelo adversário, pelo público, pelos árbitros e pelo jogo em si. Mas a verdade é que muitos "pseudotreinadores" continuam a fazer de cada um destes jogos a final do campeonato do mundo, como se a carreira destes pequenos atletas fosse decidida nestes convívios em que a vitória final só está no pensamento dos adultos.
Vi treinadores e dirigentes a terem atitudes absolutamente inqualificáveis para com adversários e árbitros. Já pararam para pensar que os árbitros jovens, para se formarem, têm de passar pela experiência de apitar pela primeira vez? Fazem ideia de quão difícil é ir para dentro do campo cheio de medo de errar, por saberem que serão crucificados por não marcarem passos a um atleta mini que ainda não sabe, ele próprio, que só pode dar 3 passos com a bola na mão?
O meu apelo: deixem os árbitros crescer. Tal como os vossos atletas não nascem a saber jogar, os árbitros também precisam de jogos para aprender.

Por outro lado, vi gestos fantásticos de outras pessoas, que compreendem que se pode exigir dos pequenos atletas e dos jovens árbitros, que se pode exigir competência de uns e esforço de outros, sem faltar ao respeito e sem desautorizar ninguém.
Num jogo, eu estava sentado junto à mesa a ver um jogo de minis e a acompanhar os jovens árbitros que estavam a dirigir um dos seus primeiros jogos após a aprovação teórica no curso. Um atleta (recordo, mini) teve uma atitude feia para com um adversário e o árbitro teve discernimento e capacidade para parar o jogo e excluir o jogador. O treinador não viu a situação porque estava a dar instruções a outro atleta, mas perguntou-me se o atleta dele tinha feito alguma coisa. Eu confirmei que sim, disse o quê e ele passou-lhe um raspanete. Não desautorizou o árbitro e não deixou de protestar as decisões que entendeu a seguir. Não passou um paninho quente sobre uma atitude incorreta do seu atleta. Educou-o, puniu-o e fez-lhe perceber que o desporto, para ser bonito, exige respeito para com todos os outros intervenientes no jogo.

No que toca aos árbitros, vi alguns que ainda não têm o discernimento de ler um jogo de minis ou infantis, com as particularidades que esses jogos têm. É normal, faz parte da sua evolução! Mas também vi árbitros que, apesar da pouca experiência, perceberam que principalmente nestes jogos o árbitro deve ser um elemento facilitador do jogo, que está próximo do atleta e o ajuda nas suas dificuldades.

A foto que coloco aqui ao lado não é referente a nenhum destes torneios, mas é perfeita para ilustrar o que quero dizer com este post. A árbitra que dirigiu este jogo tinha acabado de tirar o curso há poucos dias e estava a dirigir este jogo (minis ou infantis, já não sei). O atleta estava com o atacador desapertado e, pelos vistos, não o sabia apertar. Ela baixou-se e resolveu o problema.
Qual é o problema em o árbitro ajudar um atleta? Imaginem que ela não acedia ao apelo do miúdo e que lhe virava costas. Como é que aquele miúdo iria perceber que o árbitro é (ou deve ser) seu amigo?

Para mim, enquanto um dos primeiros formadores desta árbitra, é um privilégio trabalhar com gente assim.
Para mim, enquanto agente do andebol, é um privilégio partilhar o mesmo jogo de um treinador que confia nas atitudes de um árbitro e na minha palavra, para educar e formar um seu jogador.
São estes exemplos que todos devíamos seguir.

4 comentários:

Rúben Pereira disse...

Carlos, como sempre, estás certo. Eu nestes últimos anos que tenho trabalhado outra vez com Formação, tenho lutado precisamente contra este estado de coisas. Nestes 2 ultimos anos,temos feito no nosso clube essa Reciclagem, mas sintoque o mais dificil são os pais.
Grande abraço.

Jorge Almeida disse...

Sr. Eng., comento só para não deixar aparecer a menção "Sem comentários" para os 2 exemplos louváveis que mencionou.

Fez bem em partilhá-los no blogue, e faço votos que as pessoas em causa mantenham esse tipo de atitudes ao longo da sua vida.

Carlos Capela disse...

Rúben, obrigado pelas tuas palavras.
Tocaste precisamente numa das questões mais sensíveis de todas: os pais. Eles, os primeiros responsáveis pela educação das crianças, são capazes do melhor e do pior.
Já os vi a ter atitudes excelentes, mas também já os vi a fazer coisas simplesmente escabrosas... é mesmo preciso trabalhar sobre esse aspeto e aí, são os clubes a ter de dar o primeiro passo.
Um grande abraço.

Carlos Capela disse...

Obrigado, Jorge.
Gosto de dar exemplos aqui no blogue. De preferência, os bons...
Um abraço!