sexta-feira, 26 de novembro de 2010

7m EM CIMA DA HORA

Colocaram-me a seguinte questão:

"A situação é a seguinte: a acabar o jogo há uma falta que leva a um livre de 7m, faltam 3segs para acabar o jogo e o marcador do livre de 7m opta por esperar até o tempo de jogo acabar. Com o jogo acabado procede-se à marcação do do livre. Isto está certo? Não há nenhuma infracção?"

A minha resposta foi:

"Na situação que descreve não há qualquer irregularidade.
Um jogador tem 3 segundos para marcar um livre.

Vamos ser rigorosos... Se o marcador assinala 29m57s, então vão faltar 2 segundos e uns décimos para chegar aos 30m00s. Uma vez que o livre tem de ser executado e falta menos tempo do que aquele que o jogador tem disponível para o fazer, procede-se à marcação após soar a buzina para o fim do jogo.

O mesmo já não aconteceria se o marcador assinalasse 29m56s.

Permita-me uma nota. Acho que o facto de um jogador esperar pela conclusão do tempo regulamentar revela, até, respeito pelo guarda-redes e pelo árbitro. Situações destas podem levar a casos difíceis de resolver, se se considerar que, em caso de golo, a bola ainda não tiver entrado na baliza quando a buzina soa."

Indo ao livro de regras:

14:4 O lançamento de 7 metros será executado como um remate directo à baliza, dentro de 3 segundos que se seguem ao sinal de apito do árbitro central.

15:5 (...) Depois do apito o executante deve jogar a bola nos 3 segundos seguintes.

Mas principalmente:

2:4 As infracções e condutas antidesportivas que ocorram antes ou em simultâneo com o sinal final (para o meio tempo ou fim de jogo e também para o final dos períodos dos prolongamentos) serão punidas, mesmo que o lançamento livre resultante (de acordo com a Regra 13:1) ou o lançamento de 7 metros não possam ser executados sem ser após o sinal final.
De forma semelhante, o lançamento deve voltar a executar-se se o sinal final (para meio-tempo ou fim de jogo e também para os prolongamentos) tiver soado, quando estava a ser executado um lançamento livre ou lançamento de 7 metros, ou quando a bola estava no ar.
Em ambos os casos, os árbitros somente darão o jogo por terminado após o lançamento livre ou lançamento de 7 metros (ou repetição) e o seu resultado imediato tenha sido estabelecido.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

FUNÇÕES DO CAPITÃO DE EQUIPA

Penso que se justifica um post sobre o tema, devido às dúvidas que existiram no último post.

O capitão é uma função interna da equipa. Não tem privilégios no contacto com os árbitros. Pelo menos comigo, porque penso que não faz sentido... quer dizer, se o capitão estiver no banco ele fala do banco? Não. Então ninguém pode falar, dos que estão a jogar? Também não.
Eu ainda sou dos árbitros com que mais se pode falar, dentro de certos limites, como é evidente. E não elejo um elemento para falar, porque num jogo há várias pessoas envolvidas, e todas elas podem ter o direito de se expressar e esclarecer dúvidas sobre regras/decisões, como muitas vezes acontece. É verdade que muitas vezes isso não é bom, mas lá está, como eu disse no último post, é um estilo de arbitragem.

Voltando ao capitão... O livro de regras menciona a palavra "capitão" 2 vezes.

1) Regra 4:9
4:9 (...) São permitidas faixas na cabeça, lenços, e braçadeiras de capitão desde que sejam feitas de material macio e elástico.

Repare-se no pormenor: as braçadeiras de capitão são PERMITIDAS, não são OBRIGATÓRIAS!

2) Regra 17:4
17:4 O sorteio por moeda ao ar (10:1) é executado por um dos árbitros, na presença do outro árbitro e do “oficial responsável de equipa” de cada uma das equipas; ou na presença de um oficial ou jogador (por exemplo um capitão de equipa) em representação do “oficial responsável de equipa”.

Ou seja, um QUALQUER jogador pode fazer o sorteio.

O livro não menciona a obrigatoriedade de um capitão de equipa. Pessoalmente, acho que faz todo o sentido todas as equipas terem o seu, mas como função interna, um líder cuja voz seja ouvida e respeitada.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ESTILOS DE ARBITRAGEM

Tenho tido uma grande quantidade de trabalho, o que aliado a alguns problemas pessoais, tem impedido a actualização deste blogue.

Mais do que nunca, este post é acima de tudo a expressão de uma opinião pessoal. Já há algum tempo era para escrever sobre isto, mas desta vez tornou-se premente, porque houve o somatório de muitas conversas com os meus amigos, somado também à intervenção do Pedro Henriques no último Domingo.
Falo sobre estilos de arbitragem.

Não se pode pedir que todos os árbitros tenham o mesmo estilo na condução de um jogo. Isso seria pedir que todos os líderes de grupos ou empresas tivessem o mesmo estilo de liderança, pedir que todos os estudantes estudassem da mesma forma, ou todos os docentes ensinassem os seus alunos da mesma maneira. Isso é impossível. Cada pessoa tem a sua maneira de ser, a sua personalidade, e isso reflecte-se na actividade que cada um desenvolve no seu dia-a-dia. No caso da arbitragem, uma vez que além de juízes, somos também gestores de emoções e condutores de um jogo, isso toma proporções um pouco maiores.

Pessoalmente, prefiro um estilo low profile em campo. Acho que quem tem de brilhar são os jogadores e não nós. Acho até, que só devo aparecer quando é estritamente necessário, já que demasiada discrição pode ser confundida com ausência. Nem sempre consigo, é certo, manter o low profile ou só aparecer nas alturas certas. E esses são os jogos que, por norma, me correm menos bem.

Tenho colegas que preferem aparecer. Não por sede de protagonismo, mas apenas que entendem que é assim que seguram melhor um jogo! Isso é mal entendido muitas vezes pelas pessoas...
Consideram que uma actuação um pouco mais "agressiva" é o ideal. É a sua forma de estar, tão respeitável quanto a minha.

Há muitos exemplos que se podem dar... Eu prefiro sancionar de forma menos agressiva, a não ser que o jogo me exija outra postura. Outros colegas preferem manter sempre essa bitola um bocado mais alta. São apenas estilos...

Parte desta conversa com os meus amigos (também aprendo com eles) surgiu pela forma como o Pedro Proença mostrou um cartão amarelo num dos últimos jogos que fez (penso, até, que foi o FCP - SLB), em que foi a correr para o jogador e exibiu o cartão com vigor. Muita gente achou aquela atitude exagerada. Talvez seja, mas a nossa função é tão complexa que até no simples gesto de exibir um cartão amarelo podemos segurar um jogo ou, ao invés, podemos ser criticados e acirrar ânimos.

As pessoas esquecem-se que nós não somos cubos de gelo. Temos emoções, sentimentos, problemas pessoais e profissionais. O ideal é deixá-los sempre, e totalmente, no balneário, mas quem consegue isso? Com franqueza, ninguém! E a permanente pressão da decisão pode levar-nos a um ou outro exagero, ou a um ou outro falhanço por omissão. É normal! Temos personalidades distintas, e isso reflecte-se nas nossas actuações, no nosso trabalho!

Aos árbitros não se pede que apitem todos de igual forma. Não se pode pedir ao Capela que apite igual ao Eurico, igual ao Duarte, igual ao Ramiro ou igual ao Trinca! Nem entre a própria dupla os estilos são iguais, quanto mais fora...
O que se nos pede é que APLIQUEMOS OS MESMOS CRITÉRIOS, de jogo para jogo, igual em todas as duplas... pelo menos igual a todas as duplas colocadas no mesmo nível. Temos de lutar e trabalhar para aplicar o passivo da mesma forma, para assinalar com igual critério as faltas atacantes, para nos adaptarmos da mesma maneira às novas condicionantes das lutas dos pivots...

Não é humano exigir que tenhamos todos o mesmo temperamento e que reajamos da mesma forma às incidências de cada partida.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

PEDRO HENRIQUES NA TVI

Permitam-me, hoje, fugir ao Andebol. Mas é por um bom motivo.
Há já algum tempo que andava para fazer esta referência, mas por uma ou outra razão, até porque outros assuntos se sobrepunham, acabei sempre por passar à frente.

Tenho de fazer uma vénia à participação do Pedro Henriques no programa de Domingo à noite na TVI. Sou espectador assíduo dos programas desportivos de Domingo à noite, e gosto particularmente de ouvir as frequentes participações dos ex-árbitros enquanto comentadores residentes, na análise aos casos da jornada.
De todos os que já assumiram esse papel, sem dúvida que o Pedro Henriques é o que melhor passa para a prática a tentativa de "humanizar" o árbitro. Esse é, também, o meu cavalo de batalha já desde há muito tempo. Luto por mostrar às pessoas que o Árbitro é um Homem como os outros, e que falha como os outros.

Temos a responsabilidade e a obrigação de não falhar? Óbvio, nem nunca quem quer que seja me ouviu dizer o contrário. Assumimos essa responsabilidade no momento em que fazemos uma escolha de carreira, e sempre que pegamos num apito para ir para dentro de um campo.

Existe a possibilidade de falhar? Bem, o erro espreita em todas as nossas decisões, nas que nos obrigam a intervir e nas que nos permitem deixar jogar. Num jogo rápido ainda pior. Mas é preciso tão pouco para as nossas decisões não serem as melhores... Um jogador que passa à nossa frente, um ângulo de visão menos bem conseguido, um segundo de hesitação, até os problemas pessoais que, como humanos que somos, nem sempre conseguimos deixar fora do local de trabalho...

É aqui que incluo, de novo, o Pedro Henriques. Ele apresenta sempre a visão do árbitro, o que o pode levar a errar, o que o fez acertar, fala de técnicas, truques e apresenta o árbitro visto de dentro. Não como uma máquina que tem de decidir de acordo com a cor clubística ou com aquilo que vimos à 19ª repetição em câmara lenta!

Da minha parte, parabéns, Pedro Henriques, por dignificar tanto a nossa actividade.