sábado, 6 de abril de 2019

ARBITRAR vs. GERIR

Nem todos os jogos se dirigem da mesma maneira. Sim, as regras são as mesmas e devem ser aplicadas por igual. Puxar o braço por trás em ato de remate é desqualificação num jogo da final do campeonato do mundo, da mesma maneira que o deve ser num jogo do regional de infantis. Um ponta que cruza a área de baliza para entrar a segundo pivot num jogo da primeira divisão deve ser sancionado por violação da área de baliza, da mesma forma que um ponta que o faça num jogo de minis o deve ser. As regras são para ser aplicadas sempre. Mas a forma de atuar tem obrigatoriamente
de ser diferente.

Num jogo de miúdos, jovens, ainda a dar os primeiros passos na modalidade, a presença do árbitro deve ser notada de um ponto de vista pedagógico. E ao dizer “pedagógico” não estou a excluir sanções disciplinares duras. A pedagogia está em explicar o que se faz e como se faz quando tal se impõe, está em ter uma forma de estar em campo que faça os miúdos sentirem-se seguros, está em conseguir que os mais novos (principalmente esses!) se habituem a ver o árbitro como um misto de garante de honestidade e de autoridade. Nestes jogos, o árbitro deve ser próximo dos jogadores.

Vamos agora passar para um jogo de juvenis ou juniores, por exemplo. Já não são crianças mas ainda não são homens feitos. Os atletas, nestas idades, têm uma tendência natural para se tentarem afirmar uns perante os outros, perante os árbitros, perante os pais até. É natural que essa tentativa de afirmação leve, não poucas vezes, a desafios perante quem toma as decisões. E como deve o árbitro agir aí? Compreendendo, mas sendo firme. É essencial que nestes jogos o árbitro assuma um papel pedagógico q.b., sem abdicar da conduta cada vez mais rígida que deve acompanhar a idade dos atletas.

E num jogo de alta competição, com todos os intervenientes a saberem perfeitamente o que fazem, e tantas vezes com o pavilhão cheio a pressionar? A pedagogia deve ser mínima, apenas a exclusivamente necessária à condução do jogo. Aqui, a parada é normalmente mais alta e costuma haver mais em jogo. Quem está dentro do campo nestes momentos sente a necessidade de gerir as emoções de forma diferente, e também sente que os seus erros se pagam de forma bem mais cara do que nos outros jogos. Árbitros, atletas e treinadores. Isso provoca uma tensão natural que é preciso gerir. Uma sanção disciplinar mal dada, um livre de 7 metros mal assinalado, uma quezília que não se resolve… tudo tem consequências. Daí a necessidade de gerir, não só aplicando as regras, mas sabendo tirar partido de todo um conjunto de soft skills que um árbitro de topo tem de ter.

Com este texto, não pretendo (nem era essa a minha intenção) dar os pormenores de como deve ser uma arbitragem em cada escalão. Quis apenas salientar que é normal, e até suposto, que a postura dos árbitros nos jogos das camadas mais jovens seja completamente diferente daquilo que vemos na televisão.

NOTA: Artigo partilhado com o Magazine ACL.