terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

FALAR "ANDEBOLÊS" - 2

Ainda só mais duas notas relativas a este tema, que comecei há uns dias em FALAR "ANDEBOLÊS" - 1.

Fui lembrado, e muito bem, da mais "futeboleira" expressão de todas: o penalti.
É quase doloroso ouvir pessoas de (escandalizem-se!) divisões de topo a reclamar o belo do penalti.
É verdade que o fundamento do Lançamento Livre de 7 metros, vulgo "livre de 7 metros", é o mesmo que um penalti no futebol. É o castigo máximo, o um contra o guarda redes... mas se formos analisar bem, nascem de formas distintas um do outro!
O penalti nasce de uma falta dentro da área. No andebol, ninguém pode estar lá dentro senão o guarda redes.
O livre de 7m pode ser assinalado a 15 ou 20 metros da baliza, desde que interrompa uma clara oportunidade de golo. No futebol, a baliza pode estar deserta e um jogador prestes a rematar para dentro dela, mas se estiver fora da área quando sofre a falta não é penalti...
Isto só para citar 2 exemplos.
O que quero mesmo salientar aqui é a DIFERENÇA que há entre uma coisa e outra, e como há mais fatores a distinguir os dois conceitos que a uni-los.

A outra nota diz respeito à questão da "suspensão", levantada num comentário ao post anterior.
No fundo, não está errado. O jogador que é EXCLUÍDO está, de facto, "suspenso" do jogo durante 2 minutos.
A única imprecisão que aqui se pode apontar é ao facto de, no livro de regras, a expressão "suspensão" não estar escrita em lado nenhum. Posso estar errado (por favor digam-me se alguém detetar que estou!), mas não me recordo mesmo de a ler. O que o livro fala é na "exclusão por 2 minutos" e na "sanção" ao jogador infrator. Não fala de "suspensão", apesar de eu preferir o termo "exclusão". Mas, de qualquer forma, acho perfeitamente legítimo e aceitável que se use este termo.

Uma conclusão... mais uma vez, refiro que não tenho nenhum prazer em parecer demasiado miudinho e rigoroso. Acho, apenas, que se existem termos adequados para serem aplicados nos momentos certos, então não faz sentido que tal não aconteça.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

FALAR "ANDEBOLÊS" - 1

Uma das coisas que mais me custa, não só enquanto árbitro, mas principalmente enquanto amante da modalidade, é ver e ouvir as pessoas tratarem o Andebol como se fosse futebol.
Nada tenho contra o futebol, obviamente, até porque gosto muito de ver, acompanhar e jogar. Mas cada macaco no seu galho. O futebol é uma modalidade diferente da nossa e cada uma tem a sua especificidade, não só ao nível de toda uma filosofia de jogo, mas também no que toca à linguagem utilizada. E é esse último ponto que me leva a escrever o post de hoje.

De seguida apresento algumas expressões muito ouvidas, que vêm da boca de todos os agentes (sim, estou a incluir alguns árbitros), e que são imprecisas ou estão incorretas.

CARTÃO AMARELO: Advertência
Sim, aqui não há erro nenhum. Um cartão amarelo é um cartão amarelo. Mas convém sabermos que é, também, uma advertência. Quando um árbitro ADVERTE um jogador, está a avisar toda a equipa de que determinado tipo de faltas será punida disciplinarmente. Uma advertência é um aviso, e é nesse sentido que devemos perceber que ao mostrar um cartão amarelo a um atleta, o árbitro está a ADVERTIR toda a equipa.

EXPULSÃO: Exclusão / Desqualificação
Este é um dos erros mais graves, e ouve-se com uma frequência assustadora.
"O árbitro expulsou-me por 2 minutos." é uma frase que se ouve amiúde. É frequente usar-se o termo "EXPULSÃO" para definir uma "EXCLUSÃO".
Da mesma forma, a amostragem do cartão vermelho (DESQUALIFICAÇÃO), é não raras vezes confundida com uma expulsão. Isto é futebolizar o andebol. Não sendo ofensivo para quem se dedica à nossa modalidade, é um erro. O andebol merece um pouco mais de bom trato.
Para mais, a figura da expulsão desapareceu do livro de regras a partir do momento em que a "cruzeta" (isso sim, uma expulsão) foi extinta. No andebol, NÃO HÁ EXPULSÕES.

CHUTAR: Rematar
Nada a dizer, certo? Quantos de nós já ouviram alguém proferir esta pérola?
Toda a gente percebe o que se quer dizer, mas caramba...

LANÇAMENTO AO MEIO CAMPO: Lançamento de saída
Sim, o lançamento de saída é efetuado através da reposição da bola no meio campo, mas o nome técnico existe e é para ser usado.

LANÇAMENTO DO GUARDA-REDES: Lançamento de baliza
A reposição em jogo é feita com a bola a pertencer ao guarda-redes, mas tal como no caso anterior, aqui há um nome específico.

-- x --

Não vou aqui escrever sequer sobre o facto de já ter visto gente possessa na bancada a pedir um fora de jogo (sim, o homem estava furioso porque viu um contra-ataque), porque isso é demasiado tenebroso, mas penso que devemos usar mais os termos específicos da nossa modalidade.
Há muita gente que não sabe usar os termos "Responsável de segurança" ou "Diretor de campo", da mesma forma que não sabem distinguir o "Secretário" do "Cronometrista".
Há muita gente que não sabe distinguir um "5:1" de um "5+1".
Há muita gente que, quando se fala no "Regulamento técnico-pedagógico" pergunta "isso são as regras dos infantis?".

É preciso acabar com os erros e minimizar as imprecisões. A obrigatoriedade é maior da parte dos árbitros e das pessoas que estão nas divisões de topo. Somos nós, árbitros, e as pessoas que estão no topo da modalidade que são o exemplo para os outros, pelo que quer a responsabilidade quer a culpa nos pertencem.

Uma nota... não sou nenhum expert nesta matéria e às vezes também meto o pé na argola em algumas questões, mas faço por que isso aconteça o menos vezes possível. Acima de tudo, tento usar os termos corretos por uma questão de respeito à minha própria modalidade.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

DUPLA VANTAGEM

Uma das leis de mais difícil aplicação no andebol é a Lei da Vantagem.
Primeiro, porque envolve riscos normais no "deixar jogar até ao limite". O aumento da agressividade dos jogadores pode ocorrer em casos em que os jogadores não compreendem que o objetivo do árbitro é apenas o de facilitar a fluência do jogo, e isso vai forçosamente aumentar a exigência que é requerida ao árbitro.
Por outro lado, torna-se também difícil, em muitos casos, distinguir o limite da vantagem ou, por outras palavras, quando essa vantagem termina porque, a continuar, ocorrerão situações de "dupla vantagem", algo que não pode acontecer. E a clarificação deste ponto é o objetivo deste post.

Vamos, antes de mais, ler o que diz o livro de regras sobre este assunto:

13:2 Os árbitros devem permitir a continuidade do jogo evitando interromper o jogo prematuramente com uma decisão de lançamento livre.

Isto significa que, de acordo com a Regra 13:1a, os árbitros não devem decidir um lançamento livre se a equipa que defende ganha posse da bola imediatamente após a infracção cometida pela equipa atacante.

De forma semelhante, sob a Regra 13:1a, os árbitros não devem intervir até e a menos que esteja claro que a equipa atacante perdeu a posse da bola ou não pode continuar o seu ataque, devido à infracção cometida pela equipa que defende. (...)

Isto é uma forma de nos dizer para evitarmos ao máximo a interrupção do jogo para assinalar uma infração, para não quebrarmos o ritmo de jogo. De outra forma, o andebol seria um espetáculo muito feio.
Mas o que não podemos permitir é o seguinte:
  1. Um jogador está a ser agarrado. Só consegue soltar a bola para um colega após dar 4 passos.
    O árbitro tem de interromper o jogo porque o jogador que estava a ser agarrado, apesar de conseguir soltar a bola para um companheiro, COMETEU ELE PRÓPRIO UMA INFRAÇÃO ÀS LEIS DE JOGO.
  2. Um jogador lateral sofre uma pancada no momento de efetuar um passe para o ponta. Apesar de a trajetória da bola ter sofrido algum desvio, o ponta recebe a bola em perfeitas condições para continuar o jogo. Contudo, descuida-se, e APÓS CONTROLAR A BOLA SEM PROBLEMAS, pisa a área dos 6m.
    O árbitro tem de assinalar lançamento de baliza, uma vez que, se assinalar a primeira falta, estará a conceder um benefício extra à equipa atacante, a "dupla vantagem".
Isso não pode acontecer. O árbitro deve, sim, potenciar a circulação de bola através de uma análise lance a lance, contacto a contacto, evitando apitar sempre que a equipa atacante se mantenha em perfeitas condições.
Mas a partir do momento em que o jogo flui e o recetor da bola está em perfeitas condições de prosseguir normalmente com o jogo, a primeira situação deixa de ter importância, a menos que seja necessário agir disciplinarmente. Mas esse não é o objetivo deste post. Hoje pretendi, apenas, dar uma luz sobre o que é a "dupla vantagem", algo que não deve de todo acontecer.