domingo, 29 de outubro de 2017

A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM CORPORAL - 1

Este é um tema paralelo a todas as modalidades em que o árbitro é um elemento ativo e parte integrante do jogo, como o futebol, o basquetebol ou o andebol, por exemplo.
Muita gente não considera a necessidade de boa linguagem corporal como mandatória para a boa condução do jogo, mas este é um aspeto cada vez mais importante para uma boa arbitragem, para uma gestão bem sucedida de qualquer partida.

Na maioria das nossas atividades profissionais, as soft skills de cada um são um aspeto cada vez mais importante a ter em conta e isso começa logo na fase de conhecimento de um candidato, nas entrevistas de emprego. Por que motivo haveria a arbitragem de ser diferente?

Mas vamos por partes. Vamo-nos esquecer dos aspetos técnicos, disciplinares, regulamentares, tudo aquilo que está escrito no livro de regras. Vamo-nos concentrar nas soft skills que um árbitro deve ter. Para isso, vamos pensar nas seguintes questões:
  • Como é o árbitro visto e como são as suas decisões aceites pelas pessoas que estão em campo?
  • Como é o árbitro visto e como são as suas decisões aceites pelas pessoas na bancada?

A primeira coisa que o árbitro deve conseguir é inspirar confiança. É fundamental as pessoas saberem que podem confiar em quem tem o poder e a obrigação de tomar decisões, tão fundamental quanto as pessoas saberem que essa pessoa está a tomar as decisões corretas. Mas de que me adianta a mim tomar uma boa decisão se as pessoas olharem para mim de soslaio e não confiarem no que eu faço?
Por isso mesmo, a imagem que o árbitro deve conseguir mostrar é de calma, de serenidade e de segurança. Sem arrogância, de preferência. Aqui é uma questão pessoal, odeio arrogância. Acho que isso só contribui para um distanciamento excessivo, de todo indesejável, entre árbitro e outros agentes num jogo. Qual é o problema em justificar uma decisão, desde que quem pede essa justificação não o faça de modo recorrente? Custa muito explicar rapidamente o motivo de se ter optado por uma exclusão em vez de uma advertência, ou de se ter considerado falta atacante um determinado movimento? 
A meu ver, não custa nada, e até ajuda todos os outros intervenientes a compreender os critérios usados pelo juiz da partida.


Esta imagem de confiança é mostrada sem recurso a movimentos mecanizados. É desagradável ver um árbitro-robot. Sentir que um árbitro está atento mas descontraído é o primeiro passo para se confiar nas suas decisões (desde que este depois não se lembre de punir com cartão amarelo um murro na cara, claro...). Ver um árbitro com postura muito rígida é o mesmo que pensar "ok, o tipo está em pânico". Eu confio em alguém que está em pânico? Eu não... Acho que alguém assim pode muito bem tomar excelentes decisões, mas o excessivo estado de alerta pode perfeitamente conduzir a fortes precipitações e maus julgamentos.

Mas aqui há outro aspeto a entrar em ação... qual é o volume de confiança que as pessoas estão dispostas a depositar num árbitro? Muitos olham para o árbitro com eterna desconfiança, porque "já vem pronto para nos roubar", "já vem com a lição estudada", "com este já entramos a perder" ou "os árbitros são todos maus". Vão por mim, é tão frequente escutar isto nos recintos desportivos que se torna assustador! 


É preciso mudar mentalidades e confiar no árbitro. É preciso dar sempre um voto de confiança e acreditar que aquela pessoa que está ali para dirigir o encontro vai dar o seu melhor e vai esforçar-se para que tudo corra da forma mais justa possível. Há árbitros maus? Como em todas as atividades na vida, há os bons e os maus. Mas isso não pode afetar o nosso julgamento e a capacidade de confiar.

Pretendo fazer mais alguns posts sobre este tema, pelo que vou continuar a abordar esta questão.

Deixo só uma nota final. Por que é que deixo tantas fotos de um árbitro de futebol neste post? Porque Pierluigi Collina é, para mim, o exemplo perfeito do árbitro que é capaz de se mostrar humano, autoritário, seguro, sereno, confiante, sem arrogância e, acima de tudo, confiável. Nutro profunda admiração por Collina, pela sua carreira, pelo seu estilo e pela sua personalidade, e é, para mim, a referência máxima no que diz respeito à linguagem corporal a utilizar.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

ANDEBOL DE LUTO

Este é o pior dos motivos que me podia levar a escrever.
O falecimento do Carlos Lourenço é uma notícia que me abala profundamente, não só pelo Homem do Andebol que ele sempre foi, mas pelo fabuloso Amigo que se revelou ser.
Dos melhores colaboradores que a Associação de Andebol de Aveiro poderia alguma vez ter, soube juntar a componente humana de uma forma sempre superior e altruísta, algo que quem conviveu de perto com ele pode perfeitamente atestar. Não tenho qualquer dúvida que o Carlos Lourenço foi das melhores pessoas que o Andebol colocou na minha vida, e todos os segundos que passei com ele foram um privilégio para mim.
Hoje não é só o Andebol que está mais pobre, é a vida de todos aqueles que de perto com ele conviveram.
Até sempre, meu Amigo.

domingo, 25 de junho de 2017

VÍDEO ÁRBITRO, O ESPETÁCULO E A CULTURA DESPORTIVA

Um post devidamente cuidado e fundamentado sobre estes temas (tão, mas tão relacionados!) seria absolutamente gigantesco. Vou tentar apenas partilhar algumas das minhas ideias, sem sequer ousar procurar ser consensual.

Orgulho-me de pertencer a uma modalidade que privilegia o espetáculo em todas as alterações às regras que introduz, e que aceita que os árbitros são parte integrante do espetáculo, nem mais nem menos que qualquer outro interveniente. Orgulho-me de pertencer a uma modalidade em que os árbitros são quase sempre respeitados pelos atletas e treinadores, resultado de uma cultura desportiva evoluída. E é isso que me incomoda profundamente, o ver que, em outras modalidades como o futebol, se continua a encarar o árbitro como o cancro da modalidade, como o grande mal que é preciso resolver, como pessoas sem caráter que entram em campo sem dignidade. 
Compreendo as pessoas que dizem que o vídeo árbitro vem acrescentar justiça ao jogo. Sim, se estiverem definidos critérios de intervenção e ajuizamento (algo que ainda ninguém percebe) e se forem claras as situações em que este sistema funcionar e atuar (ainda são tudo menos isso). Nem sequer vou discutir as situações que até agora já se viram. Interessa-me mais o princípio da introdução das novas tecnologias.
Encarar o árbitro como o único fator de injustiça no resultado de um jogo é aberrante e ofensivo. É desculpabilizar os jogadores e treinadores ou, no mínimo, de atenuar as suas responsabilidades. Confesso que me faz muita confusão ouvir tantas vezes o cinismo do "vamos ajudar os árbitros a decidir" e poucas vezes "precisamos de trabalhar melhor", ouvir tantas vezes o "a culpa é do árbitro por não ter marcado penalty" e poucas vezes "a culpa é dos meus jogadores que falharam meia dúzia de oportunidades de baliza aberta". 
Além disso, quantas vezes já vimos casos em que decisões do vídeo árbitro são completamente dúbias, em que nem repetições atrás de repetições ajudam a esclarecer, e no fim acabamos por continuar a ter decisões baseadas em critérios subjetivos? Assim, o próprio princípio do vídeo árbitro FALHA.

E que efeitos tem isto no espetáculo? Bem, parece-me incontornável que a procura da justiça arruina o espetáculo. Aqueles minutos de espera por decisões, certas ou erradas, fazem desvanecer a emoção, fazem o espetáculo e a espontaneidade evaporar. E isto transporta-me automaticamente para a nossa cultura desportiva.

Que preço estamos dispostos a pagar para "procurar justiça"? Estamos assim tão desesperados? A sério que estamos prontos para abdicar da espetacularidade do Desporto em nome de uma suposta justiça que nem sempre vem?
Isto é a cultura desportiva que é incutida no nosso povo, por dirigentes nem sempre bem formados e por uma comunicação social que não cumpre o seu papel. O destaque dado aos erros dos árbitros em programas televisivos de qualidade mais que duvidosa, em vez de dar o devido destaque aos aspetos mais belos do jogo e das verdadeiras estrelas, que são os jogadores, envenenam a mente das pessoas e fazem-nos crer que os árbitros são os culpados de todas as derrotas e a causa de todas as incompetências.

Espero que o Andebol não caia na tentação crescente de introduzir tecnologias indiscriminadamente na condução de um jogo. Sim, há coisas que podem ser úteis. Mas utilizemos só aquelas que nos possam ajudar, em vez de "desajudar".
Se tal vier a acontecer, bem, aprendamos a lidar com a evolução. Enquanto não acontecer, só posso desejar que continuemos a encarar o Desporto com o que de melhor ele tem.

terça-feira, 25 de abril de 2017

SANÇÕES A OFICIAIS - Cumulatividade e Regressividade

Estas são daquelas questões que, por mais anos que passem, parece que nunca ficam esclarecidas. E por mais vezes que voltemos a isto, vai sempre haver alguém com dúvidas, dos mais novos aos mais velhos, árbitros ou não.

E as questões são:
  1. Como acumulam as sanções aos Oficiais?
  2. É possível regredir nas sanções aos Oficiais?
Então, vamos por partes, nem que seja preciso regressar ao essencial da regra.

-- x --

1.
É possível mostrar 3 tipos de sanções aos Oficiais de uma equipa:
  • Advertência
  • Exclusão
  • Desqualificação
O conceito de "sanção progressiva" neste caso não é aplicado ao nível pessoal, mas sim aos elementos do banco como um todo (jogadores suplentes fora desta questão). Logo, após uma advertência ser mostrada, mais nenhum Oficial de equipa pode ser advertido. Não é opcional. Só pode haver um cartão amarelo ao conjunto de todos os elementos do banco de uma equipa. 
O mesmo aplica-se à exclusão, que vem a seguir na ordem de progressividade. 
E depois aplica-se a desqualificação, com o máximo de desqualificações a elementos do banco de uma equipa correspondente ao número de elementos que lá estão.
Por isso, como sumário, temos:
  • Advertências a Oficiais: máximo 1 por equipa
  • Exclusões a Oficiais: máximo 1 por equipa
  • Desqualificações a Oficiais: sem limite
-- x --

2.
E depois de se dar uma sanção "mais forte", pode voltar-se atrás? SIM, PODE!
Esta é uma questão à qual ainda menos pessoas sabem dar resposta.
Trocando tudo por miúdos:
  • Após uma exclusão, é possível mostrar um cartão amarelo, desde que não seja ao elemento que foi excluído;
  • Após uma desqualificação, é possível mostrar um cartão amarelo e uma exclusão, desde que não sejam ao mesmo elemento que foi desqualificado (obviamente).
No que toca à regressividade, entende-se que os Oficiais funcionam da mesma forma que acontece com os jogadores. Se o jogador nº 5 for excluído, posso depois advertir o jogador nº 2, por exemplo. Aqui é igual. Se o Oficial A for excluído, posso mais tarde advertir o Oficial C.

Optei por deixar o texto da regra de fora deste post. Se se proporcionar, faço novo post incluindo o que está escrito no livro de regras.
Para já, importa-me apenas procurar deixar clara uma questão que normalmente não o é.

domingo, 2 de abril de 2017

ONDE ESTÁ O RESPEITO?

Mais uma agressão a um árbitro.

Não sei quanto tempo mais vai ser preciso até as autoridades competentes tomarem medidas sérias no combate a este clima de terror sobre as arbitragens.
É verdade que é no futebol que se dão os casos mais graves, mas o ambiente alastra-se com facilidade às outras modalidades.

Ainda vivo com a esperança de que, um dia, os principais agentes desportivos percebam que os árbitros são pessoas com vida própria, com família, quase todos com atividade profissional ou estudantil, e que fazem muito esforço para levar a cabo com sucesso uma tarefa cada vez mais difícil.

A falta de respeito pela atividade dos árbitros é cada vez mais gritante. Não há tolerância para o erro. É cada vez mais fácil criticar, julgar e ofender. E esse é um cancro crescente nos recintos desportivos: a gratuitidade do insulto, da ofensa, da ameaça. É fácil ofender um árbitro e a sua família, é prática comum recorrer-se à ameaça física como forma de coação. E nos últimos tempos, já não é só a ameaça física e passa-se à prática com facilidade.

Quem é que eu culpo?
Aqueles que acicatam ódios e que pensam que a melhor forma de um adepto defender o seu clube é odiar o outro seu rival. Mas o Desporto é isso? O Desporto como eu o vejo não. O Desporto como eu o vejo é uma competição sadia para ser melhor que o outro, não uma forma de denegrir o outro para lhe passar por cima. O Desporto como eu o vejo joga-se dentro do respetivo recinto desportivo, não fora. 
E o papel da comunicação social aqui não é de esquecer. Na luta pelas audiências, não vale tudo. Programas televisivos que só servem os interesses de alguns clubes e ignoram por completo os outros todos não são positivos. Programas em que alguns comentadores fanáticos levam ao extremo as suas formas de pensar não são positivos. Programas em que se passam repetições dos lances duvidosos cem vezes por programa e em que as decisões dos árbitros são discutidas até à exaustão não são positivos. Programas em que se julga a seriedade de pessoas com análises frame a frame não são positivos. Longe vai o tempo em que o Domingo Desportivo era um programa útil em que se falava de Desporto e nada mais...

Gostava que os árbitros tivessem mais tempo de antena. Não para se defenderem de nada, mas para explicar a Arbitragem aos olhos das pessoas. Claro que o mais cego dos adeptos nunca vai entender nada. Esse só vê as suas cores e nunca tira as palas. Mas acredito que muita gente iria conseguir compreender melhor "o lado de cá".

Os árbitros erram?
Sim, bastante. Mas não mais que os treinadores, os jogadores e os dirigentes. Os árbitros são homens e mulheres com dignidade, que lutam por uma carreira e por uma atividade, que tudo fazem para que o jogo decorra dentro do maior espírito de paz e justiça entre todos.

Há árbitros maus?
Sim, muito maus. Mas não mais do que qualquer outra atividade. E é por isso que um engenheiro, um advogado, um padeiro ou um empregado de mesa são insultados e agredidos? Caramba, não. Erros ou incompetência não são motivo para se agredir quem quer que seja.

Vergonha para quem nos acusa assim.

Honra seja feita àqueles que nos compreendem e, mesmo que não concordem com as nossas decisões, as aceitam com respeito e fair-play.

RESPEITO NÃO TEM PREÇO!

domingo, 12 de fevereiro de 2017

FORÇA, PASSOS MANUEL

Já todos sabemos o que aconteceu ontem na A1, com a equipa do Passos Manuel. 
Nestes momentos sentimos quão frágeis e sujeitos todos estamos a estas coisas, porque as centenas de jogos semanais que a todos nos envolvem nos obrigam a andar sempre de um lado para o outro.
É por isso mesmo que todos temos de ser do Passos Manuel por estes dias. 
Graças a Deus não aconteceu nada de grave e todos os envolvidos já estão em casa.

Ao Passos Manuel em geral e à equipa senior feminina em particular, faço votos que a recuperação seja rápida e que voltem depressa à competição.

domingo, 8 de janeiro de 2017

NOVAS REGRAS - Jogadores de campo

Na sequência dos últimos 4 posts:
escrevo hoje sobre a possibilidade de as equipas atuarem sem guarda-redes, com 7 jogadores de campo.

Sem dúvida que esta alteração vai no sentido de dar mais liberdade tática aos treinadores, mas também acarreta os seus riscos. Se, por um lado, é permitido a uma equipa organizar o seu ataque de forma diferente, por outro lado atacar com a baliza deserta pode provocar dissabores em qualquer perda de bola. Mas esta, como disse, é uma decisão de quem comanda as equipas.

No que toca aos árbitros, tudo o que é necessário saber é que sem guarda-redes na baliza, a probabilidade de estar criada uma clara oportunidade de golo (condição básica para ser assinalado livre de 7m) é muito alta. A partir daí, tomar-se-á a decisão correspondente à situação criada.


Procedimento dos árbitros

  • Se um defesa entra propositadamente na área de baliza, SEM GR,  para impedir um golo, deve ser assinalado livre de 7m e, muito provavelmente, deve ser atribuída sanção disciplinar ao defesa, devido a conduta antidesportiva;

  • Só o GR pode efetuar um lançamento de baliza.
    Ou seja, se uma equipa efetua um remate para uma baliza deserta e a bola sai ao lado da baliza, terá obrigatoriamente de entrar em campo um GR para poder efetuar o respetivo lançamento de baliza, sem necessidade de se parar o tempo de jogo. Nestes casos, se ocorrer o atrasar deliberado, por motivos estratégicos, da entrada do GR, os árbitros devem proceder a um aviso verbal ou a uma ação disciplinar sobre o responsável, seja o Oficial ou o próprio GR;

  • Se a equipa adversária recupera a posse de bola e sofre uma falta dita "normal", não há lugar a livre de 7m.
    No entanto, se o jogador que recupera a bola tentar rematar para a baliza vazia, deverá ser assinalado livre de 7 metros. Para definir o conceito de "baliza vazia", entende-se "GR fora da área de baliza". Considera-se que um jogador tenta rematar para a baliza vazia quando, no momento da falta, já está com o braço armado em posição de remate.
    Nestes casos, a existência de sanção disciplinar depende da falta que for cometida;

  • Nos casos em que há um lançamento livre para ser executado após o sinal final, e a equipa que está na defesa tem 7 jogadores de campo, é autorizada a substituição para entrada de um GR.
Para todos os casos descritos em cima, considero que a equipa que ataca está com 7 jogadores de campo.