sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

MESMO LANCE, DECISÕES (QUASE) OPOSTAS

Sim, este post é praticamente uma continuação do que fiz na semana passada.
Ponho agora a situação de ambos os árbitros decidirem um lance a favor da mesma equipa, mas com gravidade diferente nas suas situações.
Como exemplo, retomo o caso que me aconteceu e que descrevo no post "Mesmo lance, decisões opostas", com uma diferença. O Bruno, em vez de apitar falta atacante, apita lançamento livre de 9m. Eu mantenho-me com o lançamento livre de 7m. Como decidir?

Aqui, o caso é bastante mais simples de resolver, e não é necessário recorrer a qualquer paragem de tempo para tentativa de consenso entre os árbitros. A regra é clara:

17:6 Se ambos os árbitros apitam para uma infracção e concordam sobre qual equipa deverá ser penalizada, mas têm opiniões diferentes sobre a gravidade da sanção, então será aplicada a sanção mais grave.

Ou seja, no caso que descrevo, deveria ser aplicado o livre de 7m.

O mesmo se aplica no caso das sanções disciplinares. Se um árbitro mostra o cartão amarelo a um jogador e, simultaneamente, o seu colega sanciona esse mesmo jogador com 2 minutos, então o jogador deve ser excluído.
Esta regra, aplicada a casos "disciplinares", tem menor aplicação porque a sua ocorrência é em bastante menor número. Mas a nível técnico acontece amiúde, apesar de não ser aconselhável, sendo muitas vezes até disfarçada pelo recomendado prolongar do apito na marcação do livre de 7m, que "abafa" o apito do árbitro central...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

BOLA NA CARA DO GUARDA-REDES

Hoje falo sobre os lances em que a bola atinge a cara do GR, após um remate.
É uma situação em que qualquer decisão dos árbitros nunca será 100% consensual, se a bola acabar por cair nas mãos de um adversário do GR, mas já lá vamos.

Há bem pouco tempo, o que fazíamos era parar imediatamente o tempo de jogo, assim que o GR era atingido, e a bola pertencia-lhe sempre que o jogo era imediatamente interrompido, recomeçando o jogo com lançamento de saída.
Desde o dia 21 de novembro de 2011, juntamente com a atualização do livro de regras, as indicações são as que descrevo de seguida.

Quando o árbitro interrompe o jogo, a bola...:
  1. Já saiu pela linha lateral
    O jogo recomeça com o lançamento correspondente.
  2. Já saiu pela linha de baliza
    O jogo recomeça com lançamento de baliza.
  3. Está a rolar na área de baliza
    O jogo recomeça com lançamento de baliza.
  4. Está no ar sobre a área de baliza
    O árbitro deve esperar 1 ou 2 segundos até uma equipa ganhar a posse de bola.
    O jogo deve recomeçar com lançamento livre para a equipa que ganhou a posse de bola.
  5. Está no ar fora da área de baliza
    O jogo deve recomeçar com lançamento livre para a equipa que tinha a posse de bola em último lugar.
  6. Já ressaltou para um jogador atacante
    O jogo recomeça com lançamento livre para a equipa atacante.
Relativamente a este último ponto em particular, é importante relembrar que o jogo nunca deve ser reiniciado com livre de 7m, porque o árbitro parou o jogo para proteger o GR, nunca se podendo assumir esse apito como uma interrupção de jogo por um motivo injustificado.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

MESMO LANCE, DECISÕES OPOSTAS

E porque nem sempre se tomam decisões corretas (ou, pelo menos, consensuais...), descrevo hoje uma situação que ocorreu num jogo meu já em 2012.

Numa bola disputada aos 6m, no preciso momento em que o Bruno assinala falta atacante, eu estou a apitar para livre de 7m.
Uma vez que as nossas decisões eram de sentidos contrários, fiz o que as regras mandam: mandei parar o tempo de jogo para que chegássemos a uma decisão conjunta. Para mim, a defesa estava com ambos os pés bem dentro da área, mas para ele a defesa foi arrastada para dentro pela ação da atacante.
Optámos pela marcação do livre de 7m, uma vez que eu insisti que a defesa estava dentro.
Justifico pela regra:

17:7 Se ambos os árbitros apitam para uma infracção, ou a bola saiu do terreno de jogo, e os dois árbitros mostram opiniões diferentes sobre qual equipa deveria ter posse de bola, então aplica-se a decisão conjunta que os árbitros alcançam depois da consulta entre si. Se não conseguem alcançar uma decisão comum, então prevalecerá a opinião do árbitro central.
É obrigatória uma paragem de tempo. Durante a consulta entre os árbitros, eles farão o gesto de forma clara e, depois do sinal de apito, o jogo é reiniciado (2:8d, 15:5).

E como é que estas coisas acontecem com uma dupla que apita junta há 12 anos? Não deveria já haver uma coordenação maior entre a dupla?

Há coordenação, uma vez que temos a mesma leitura do jogo e do seu espírito, temos a mesma visão do Andebol e das Regras, mas estas coisas vão sempre acontecer, independentemente do treino que se tenha. Pode acontecer a qualquer momento, num jogo de maior ou menor relevância competitiva. Deseja-se é que aconteça poucas vezes ou quase nunca, o que felizmente é o caso.
Estas falhas acontecem por simples precipitações ou diferentes ângulos de visão, porque um dos árbitros olha de repente para o local da falta e pode não ter a leitura 100% correta do lance, por qualquer outro motivo...

Neste caso particular, apesar de eu ter insistido que a defesa estava dentro, faço agora uma leitura do lance mais pausada e concluo que posso não ter tido razão. O contacto dá-se com o corpo da defesa a bloquear a minha visão do lance, e isso impediu-me de ver o momento de início do contacto.
Se o contacto começou fora, como o Bruno alega, ele tem razão e deveria ter sido falta atacante, com a consequente inversão do sentido de jogo.
Se o contacto começou dentro, como eu alego, eu tenho razão e a decisão certa foi tomada.

Felizmente, este (possível) erro não teve qualquer relevância no resultado final.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

SANÇÃO POR VIOLAÇÃO DOS 6m

Hoje falo de uma situação que ocorreu recentemente num jogo meu.

A dada altura do jogo, já na 2ª parte, há um jogador que faz um remate, saltando numa zona entre os 7 e os 8 metros. Um defesa que vinha a correr para trás, numa recuperação defensiva, atravessa propositadamente a área dos 6m e interceta o remate, com o intuito claro de impedir que este chegasse à baliza.
Além do evidente livre de 7m, excluí o jogador infrator.
O treinador protestou, proferindo as seguintes palavras: "2 minutos porquê? Só porque cortou a área?".
A minha resposta foi afirmativa. Obviamente, foi porque cortou a área, mas isso não é um "só". A invasão foi propositada, não casual.  É uma conduta antidesportiva!

Justifico a minha decisão com a regra:

8:7 As ações que a seguir se descrevem nas alíneas a) a f) são exemplos de conduta antidesportiva que devem ser sancionadas de forma progressiva, começando com uma advertência (16:1b):
(...)
f) Repetidas violações da área de baliza por razões de ordem tática.

Ora, já tinham sido assinalados livres de 7m por violação e, uma vez que já não havia há muito tempo cartões amarelos por mostrar, a exclusão foi imperiosa.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

OS ÁRBITROS TÊM CLUBE?

Antes de mais, espero que todos os leitores tenham tido uma excelente entrada no novo ano, e que este seja bastante melhor do que 2011.

Hoje, continuo sem abordar questões técnicas. Deixo isso para os próximos posts, até porque já sei do que vou falar. Fico-me por outras questões, de dever e de direito.

No post anterior, abordei aquilo que considero ser um direito do árbitro, o de pedir desculpas por uma falha. Cada um é livre de o fazer, sabendo das consequências, boas e más, que isso acarreta. Hoje falo de outro direito, que também parte da consciência de cada um, e que cada um saberá se está preparado para acartar com o que daí poderá advir: o direito a assumir publicamente a sua preferência clubística.

É utópico pensar que um árbitro não tem clube do coração ou, no mínimo, uma preferência. É ainda mais utópico pensar que, ao tirar o curso, um árbitro esquece todos os anos em que foi adepto de um clube só porque agora está no papel de juiz de um espetáculo desportivo.

Falo de mim mesmo... toda a gente sabe qual é o meu clube do coração, nunca o escondi! Antes de ser árbitro já era adepto, enquanto árbitro continuo adepto, quando deixar de ser árbitro continuarei adepto. Já dirigi vários jogos do meu clube. Ganhou uns, perdeu outros. Não me afetam as suas derrotas no andebol mais do que as derrotas de outro qualquer clube. Não me enchem de orgulho as suas vitórias mais do que as vitórias de outro qualquer. Tenho um espírito de isenção que me permite encarar uma camisola de qualquer cor com o mesmo respeito. Encaro qualquer emblema da mesma forma. Independentemente de quem está em campo, se é o meu clube do coração ou não, as camisolas lisas, com riscas horizontais, verticais ou aos quadrados valem o mesmo para mim. Disso pode ter a certeza quem quer que seja, não há camisolas pesadas ou emblemas pesados, por uma razão muito simples: não há nada mais pesado que um apito.

Não estou a exaltar o meu comportamento, porque não sou mais do que o que me compete ser. Aliás, tenho certeza que a esmagadora maioria dos meus colegas é assim também.

Mas há a outra face da moeda. As pessoas não estão minimamente preparadas para a frontalidade de um árbitro. Tal como no caso do pedido de desculpas, as pessoas não estão preparadas para ver um árbitro assumir o seu clube. Eu desafio esses dois preconceitos porque é essa a minha forma de estar. Não sei ser de outra forma, mas sei que fazê-lo é muitas vezes cuspir contra o vento, porque acaba por se virar contra mim.
Assumindo o meu clube e errando em seu favor (ou decidindo a seu favor num lance duvidoso), as pessoas vão dizer que estou a beneficiar propositadamente esse clube.
Assumindo o meu clube e errando contra si (ou decidindo contra si num lance duvidoso), as pessoas vão dizer que estou a prejudicar propositadamente esse clube para disfarçar.
E agora pergunto eu, como exemplo... o que acontece quando um árbitro tem uma decisão favorável a um clube dito "grande" (detesto esta expressão, mas uso-a apenas para ilustrar melhor o meu discurso) num confronto com um clube dito "pequeno" (ipsis verbis...)? Os adeptos desse clube dito "pequeno" vão pensar que somos adeptos do clube dito "grande". E se, nesse mesmo jogo, a decisão for favorável ao clube dito "pequeno"? Os adeptos do clube dito "grande" vão dizer que somos adeptos de outro clube dito "grande"...
Conclusão: o árbitro está sempre sob suspeita de ceder a clubes. Por isso, mais vale assumir os nossos gostos frontalmente.

Deixo o menos importante para o fim.
Sou do Belenenses. Podia ser do Porto, do Benfica, do Sporting, do V. Setúbal, do Alto do Moinho, do Gaia ou do Monte, ou de outro QUALQUER clube, que o meu discurso seria o mesmo.

Assumirmo-nos de um clube é um direito que temos.
Estarmos preparados para o bom e o mau que daí advém é um ato de consciência individual.