terça-feira, 3 de novembro de 2009

PEQUENOS CONTACTOS

Dando sequência ao planeamento a que me tinha proposto, hoje falo um pouco dos pequenos contactos e da aplicação da lei da vantagem, conceito que está directamente ligado.

Começo por dizer que a aplicação da lei da vantagem não tem por objectivo beneficiar o ataque, mas o espectáculo em si. O objectivo é tornar o Andebol num desporto atractivo, e isso só se consegue se, entre muitas outras coisas, o tornarmos um desporto rápido e com poucas interrupções.
O papel do árbitro é fundamental. Nós, árbitros, não nos podemos demarcar das nossas responsabilidades enquanto condutores de um espectáculo, não sendo, contudo, responsáveis por tudo o que nele acontece, claro...


Defendo a teoria de que pequenos contactos não são falta. Mas vou explicar-me bem para não ser mal interpretado.
Há 2 tipos de pequenos contactos: aqueles que ocorrem numa tentativa de controlo do adversário, e os que têm por objectivo travar o opositor.
Em cima, está o exemplo do tipo de contacto que, em condições normais, não deve ser assinalado. Por "condições normais", entendo "o atacante consegue soltar a bola e prosseguir o jogo". O defesa não empurra, não agarra, não prende... CONTROLA! O atacante tem todas as condições para jogar, uma vez que o braço da bola é o oposto do do contacto!

Veja-se agora a diferença em relação a este lance. O braço agarrado é o da bola. É muito possível que esta jogadora não consiga libertar a bola. Contudo, se ela conseguir dar seguimento ao lance e a bola permanecer na posse da sua equipa, deve aplicar-se a lei da vantagem!

Para essa aplicação é necessário que o jogador atacante não cometa qualquer infracção, senão está a beneficiar de uma ilegalidade por si cometida. Falou-se muito nisso aqui no blogue ultimamente, e concordo que é uma questão importante de ser esclarecida.
Independentemente de concordarmos (ou não), com esta forma de ver as coisas, o essencial é perceber as instruções que os árbitros têm para actuar nestas situações: o jogador atacante não pode beneficiar de uma infracção cometida por si, ainda que provocada por um defesa!

Exemplos:

  1. Jogador entra da ponta para 2º pivot, é tocado, passa por dentro da área e recebe a bola mais à frente. Não pode beneficiar de ter passado por dentro da área! É preciso marcar a falta anterior. Decisão: livre de 9m para a equipa atacante.
  2. Jogador é agarrado aos 9m, dá 5 passos enquanto é agarrado e liberta a bola ao pivot, que fica isolado aos 6m. Não pode beneficiar por ter dado passos! Decisão: livre de 9m para a equipa atacante.

Tenho de fazer uma chamada de atenção. Neste post, falo de pequenos contactos inofensivos, sem intenção de prejudicar a integridade física do adversário. Os que não respeitarem esta premissa devem ser punidos.

Queria ressalvar uma coisa também. Estou apenas a falar das sanções técnicas a aplicar. As sanções disciplinares podem (e devem) ser atribuídas após correcta aplicação da lei da vantagem! É verdade que às vezes falha, mas um erro apenas neste capítulo pode manchar toda uma arbitragem, porque é um erro que os outros intervenientes no jogo têm pouca tendência para compreender.

Na minha opinião, a distinção entre pequenos contactos inofensivos e pequenos contactos intencionais faz toda a diferença na qualidade de um árbitro e de uma arbitragem.

14 comentários:

Jorge Almeida disse...

Parabéns pela mensagem posta.

Foi completamente esclarecedora, e escrita duma maneira que penso que, senão toda a gente, muita gente terá entendido.

É por estas e por outras que este blogue ainda recentemente apareceu referenciado no blogue do Barbolax.

Certo que fui eu que escrevi ao Barbolax para ele dar uma vista de olhos neste blogue, mas eu não o obriguei a referir este blogue no blogue dele.

Sr. Carlos Capela, dada a audiência que o blogue do Barbolax tem (especialmente nos países latinos e sul-americanos), e dado que, infelizmente, não há muitos árbitros de andebol no mundo dispostos a escrever sobre arbitragem de andebol em termos públicos, prepare-se para receber bem mais visitas neste seu blogue.

Cabe-me esclarecer que a referência que ele fez acerca do Sr. estar próximo de pertencer aos quadros da EHF, foi porque eu somente contei-lhe o que o Sr. me contou de que já esteve para receber as insígnias da EHF (aquando da resposta a uma intervenção que tive neste blogue, pedindo a sua opinião acerca da não suspensão, pela IHF, da dupla de árbitros alemã implicada em possível acto de corrupção, e da descida de escalão da IHF dupla de árbitros espanhóis que vinha de apitar a final da Liga dos Campeões feminina).

Espero que não se tenha zangado comigo por, às tantas, estar a antecipar as coisas ...

Jorge Almeida disse...

Mesmo assim, e apesar de considerar a sua mensagem bem escrita e esclarecedora, continua a custar-me ver as situações sobre as quais já escrevi previamente neste blogue.

Carlos Capela disse...

Antes de mais, tenho de agradecer a "publicidade" que fez ao meu blogue. Penso que isso só nos enriquece a todos, se houver várias participações. Evidentemente, não estou zangado, bem pelo contrário... Não conhecia o blogue do Barbolax, mas já tinha ouvido falar nele...

Queria apenas esclarecer uma coisa... eu não estou próximo de ser EHF! O que eu disse na altura é que tive uma experiência lá fora, e poderia sair de lá com as insígnias YRP, o que não aconteceu!

Em relação à sua opinião acerca dos lances, insisto que se deve pensar sempre que o atacante pode tirar vantagem PORQUE foi tocado e não ter vantagem ganha APESAR DE ter sido tocado... faz toda a diferença.

Jorge Almeida disse...

Sr. Carlos Capela, pelo que vi no seu perfil (está aberto ao publico), tem 29 anos. Caso as coisas corram como normalmente, e mantendo o caminho que tem trilhado, não tarda nada a que quem de direito repare em si, e o ponha nos quadros internacionais da arbitragem (até porque ainda tem, mais ou menos, 15 anos de arbitragem pela frente).

Quanto a Barbolax (http://barbolax.blogspot.com/), para além do seu blogue, é o principal animador do blogue Balonmano Mundial (http://handballtotal.blogspot.com/), e era o principal fornecedor de conteúdos do antigo (e saudoso) sitio na internet que dava pelo nome de Handballpedia.

Não querendo fazer a apologia de Barbolax (quem for visitar este blogue, vê logo a sua qualidade), não posso deixar de referir que esta entidade encarna no corpo de Alex Nogués Rubio, Basco, actual treinador dos Seniores Masculinos da equipa basca do Ereintza, que milita na 1ª Divisão Nacional de Espanha (equivale, grosso modo, à nossa PO03), e que já foi adjunto da equipa Bidasoa Irun nos anos de 2000 a 2003, quando esta equipa militava na Liga Asobal. De notar que, deste clube de Ereintza, já saíram jogadores como Iker Romero e Jon Belaustegui.

Este é, claramente, um caso em que a criatura ultrapassou o criador.

Jorge Almeida disse...

Outro assunto:

O "Comité Técnico de Árbitros de la Real Federación Española de Balonmano" enviou, à já algum tempo, para a Associação Espanhola de Treinadores de Andebol (AEBM), o plano de formação arbitral 2009/2010, onde são divulgados os critérios que vão reger a actuação dos árbitros espanhóis durante 2009/2010.

Tal documento encontra-se disponível no seguinte link:

http://www.aebm.com/documentos/archivos/PFAdef.pdf

Falo dele aqui porque ainda não tinha visto nenhuma referência sua a este documento.

Conhece-o?

Por acaso, os critérios são os mesmos para os árbitros portugueses?

Porque é que a Comissão de Arbitragem da FAP não tomou, pelo menos à ATAP, semelhante iniciativa, e divulgou o documento homólogo a este (caso exista, claro está)?

Carlos Capela disse...

Sim, tenho 29 anos. O futuro a Deus pertence, e o meu objectivo, nesta fase da minha carreira, é ser cada vez melhor, mas não tenho ilusões. Já tive...

Assim que o tempo me permitir, dado que ando numa fase extremamente complicada, tenho de passar os olhos nesse blogue com o devido cuidado, bem como em outros espaços que entretanto me foram sendo recomendados...
E agradeço o facto de mos referir!

Continuo a defender a teoria de que um árbitro não tem de perceber só de regras, porque assim jamais será um bom árbitro!

Carlos Capela disse...

Não conhecia este documento, e para o analisar devidamente vou ter de investir bastante tempo. Não o posso fazer nas próximas semanas, mas debruçar-me-ei sobre ele assim que me for possível.

Quanto à FAP enviar ou não o documento homólogo, são coisas que não me dizem respeito... e aí não meto o nariz! :)

Aníbal Martins disse...

Post muito ecsclarecedor e penso sem dúvida que o critério a aplicar deve ser este. É preciso é que haja bom senso para o aplicar, para tentar distinguir os contactos que permitem ou não que o atacante jogue a bola. Acho que os casos mais difíceis dentre deste aspecto são os remates de 1ª linha, não concorda Carlos? Tentar perceber se o contacto é antes ou depois do remate e se tem ou não influência no equilíbrio do rematador deve ser complicado...

Carlos Capela disse...

Sem dúvida que é difícil avaliar a intensidade do contacto, mas aí é a experiência que nos permite analisar os lances, embora todos os árbitros, por mais experiência que tenham, falhem por vezes...

Os remates de 1ª linha são sempre situações difíceis de analisar, porque na esmagadora maioria das vezes são movimentos muito rápidos.
Uma das coisas que permitem analisar correctamente os lances (a maioria das vezes) é ver se o remate sai com força e direccionado à baliza. Quando assim é, por norma o toque não tem influência na acção do rematador.
Outra coisa que é preciso analisar é o equilíbrio do corpo do rematador.

Para os árbitros que gostam de deixar jogar, tronco equilibrado e remate forte e direccionado, geralmente é sinónimo de não apitar...

(Sábado vou apitar a Santo Tirso.)

Aníbal Martins disse...

Claro, e isso depois é a experiência do árbitro vs a experiência do defesa a tentar dar o toque mais escondido possível :)
Vi agora que sim, só posso desejar muito boa sorte porque é um jogo bastante importante.

Anónimo disse...

parabéns pelo blog mais uma vez. esta cada vez melhor.

gostava de colocar uma questao

no ultimo minuto do jogo um jogador entra dentro da sua area e impede que uma bola entre na sua baliza, qual a sançao disciplinar a aplicar?

P.S. guarda-redes nao se encontrava na baliza

na minha opiniao seria vermelho directo com um jogo de suspensao como ja vi acontecer , e 7metros , estou correcto?

Carlos Capela disse...

Muito obrigado.
Se me permite, vou incluir esse assunto no meu próximo post, acerca do último minuto de jogo.
Mas adianto-lhe já que na minha opinião sim, deverá ser assinalado livre de 7m e mostrado o cartão vermelho.

Miguel Durães disse...

Parabéns pelo blog e pelos esclarecimentos utéis que faculta sobre arbitragem.
Em relação a este tema deixo a minha opinião como técnico: Concordo com a sua perspectiva sobre os "pequenos" contactos. Sempre achei que o andebol português só evoluirá para outros patamares quando os atletas se habituarem cada vez mais a efectuarem gestos técnicos (como o remate, passe etc.)com forte oposição. Assistimos à diferença de algumas arbitragens portuguesas e estrangeiras (provas europeias por ex)onde aqui ao minímo toquessinho os atletas portugueses param de jogar à espera da falta e se sofrem um contacto já não conseguem rematar, usufruindo poucas vezes com utilidade da lei da vantagem, derivado a isso. O jogo em Portugal torna-se aborrecido porque premeia-se sempre o ataque com faltas e "faltinhas", que quebram muito o ritmo do jogo e "dessincentiva-se" as defesas agressivas (no bom sentido do conceito)e os atletas que gostam e sabem ser bons defensores (que ficam algo frustrados com estas situações constantes de livres de 9m de pequenos contactos).

Carlos Capela disse...

Olá, Miguel.
A maior parte do que aqui falo são indicações gerais, mas também tenho aqui muitas opiniões pessoais minhas, a minha visão do jogo de andebol.
E é aí que se engloba este post dos pequenos contactos. A minha visão pessoal do jogo de andebol, é que tem de ser um jogo viril, com contactos, "durinho" de preferência (gosto de ver uma boa defesa a actuar).
Pequenos toques para mim não devem ser considerados falta, a não ser que desequilibrem o adversário ou sejam "perigosos" para a integridade física de quem os sofre.
Por isso, estamos 100% de acordo!
Espero que este blogue tenha ganho um visitante assíduo...