Continuando no caso de erros na contagem do tempo de jogo, falo hoje do caso em que os árbitros detectam que a buzina para o intervalo (ou fim do jogo) soou antes do tempo. Isso pode acontecer, por exemplo, porque num time-out feito no último minuto, uma falha na mesa impediu que o cronómetro parasse. Aí, passa a mandar o relógio do árbitro, que tem a responsabilidade de controlar o tempo de jogo.
Que deve um árbitro fazer numa situação destas? Melhor que palavras minhas, a regra 2:7 é explícita:
2:7 Se os árbitros constatarem que o cronometrista deu o sinal final (para o meio-tempo, fim de jogo, de igual modo para os prolongamentos) demasiado cedo, deverão manter os jogadores no terreno de jogo e prosseguir o jogo até que o tempo remanescente se esgote.
A equipa que estava em posse da bola aquando do sinal prematuro permanecerá em posse da mesma quando o jogo se reinicia. Caso a bola esteja fora de jogo, então o jogo é reiniciado com o lançamento que corresponde à situação. Caso a bola se encontre em jogo, então o jogo é reiniciado com um livre de acordo com a Regra 13:4a-b.
13 comentários:
Ao ter escrito sobre o recomeço do jogo após factos anormais ao jogo, lembrei-me duma situação extremamente desagradável, e que não sei se já tinha escrito aqui sobre ela.
Passo a explicar: Final de Encontro Nacional de Iniciadas Femininas, no início dos anos 90, disputado "na nossa casa".
É preciso lembrar que, durante muitos anos, não havia campeonato nacional de Iniciadas Femininas, pelo que o Encontro Nacional era encarado pelas equipas participantes como se dum verdadeiro campeonato nacional se tratasse.
A 1 minuto do fim, estava a equipa de que era director a perder por 1, e na defesa, uma das "minhas" jogadoras intercepta um passe do ataque adversário, e vai em contra-ataque directa à baliza contrária. Dava para perceber que só por um milagre que aquela bola não entraria na baliza, e que não haveria prolongamento.
No meio campo onde estava a baliza para onde a moça se dirigia, só estava ela e a GR adversária.
Nesse preciso momento, entra em campo a directo do torneio (pessoa nomeada pela então FPA) a invocar que houve problemas com a constituição da equipa adversária.
Resolvido o problema, os árbitros, em vez de porem naquele meio campo só a portadora da bola e a GR adversária, não! Permitem que a equipa adversária recuasse toda para a sua defesa, transformando uma situação de contra-ataque directo num menos favorável ataque organizado.
Não me lembro se a regra na altura foi bem aplicada, e se a regra continua a ser a mesma, mas convenhamos que a minha equipa foi claramente prejudicada neste lance, que determinou a sorte da partida, do ENIF e, por conseguinte, da época ...
São estas situações porque deveriam passar as pessoas que falam de que não pode haver campeonite nos escalões de formação. É que isto doi imenso. Ainda me doi, passados mais de 15 anos.
Sou um leitor assíduo do blogue apesar de nunca me manifestar em termos de comentários.
Porém gostaria de fazer uma pergunta sobre este comentário do Sr. Jorge Almeida, o mais atento e ávido comentador deste blogue :)
Gostaria que me definisse "campeonite", para saber se pensamos o mesmo.
Considera que a campeonite é boa nos escalões de formação??
Desculpem o Off-topic mas estou curioso. :)
Claro que a regra não foi bem aplicada, pelo menos por as que estão em vigor. O jogo nunca poderia ter sido retomado com a equipa toda na defesa, nem com apenas a jogador e a Guarda-Redes no meio-campo, isto é, a equipa de arbitragem não poderia fazer a espécie de um "pause" e retomar de novo a "emissão" colocando as jogadoras onde se encontravam na altura da interrupção. Nesse caso seria obrigatório conceder um livre de sete metros a favor da equipa que estava com posse de bola, tal a "clara oportunidade de golo" por si relatada. O mesmo se deve aplicar nas situações onde o jogador se encontra na mesma condição e o jogo é interrompido abruptamente, (invasão de campo, toque da buzina errado, apito da bancada, etc...).
Aproveito este comentário para em jeito de pergunta, afirmar, que não raras vezes tenho acompanhado jogos, quer ao vivo quer pela televisão, e a regra ou indicação, (aqui sim tenho dúvidas; será regra?; será apenas indicação?) para que os elementos do banco não estejam vestidos com as mesmas cores que os jogadores de campo, não está a ser cumprida. Muitos são os oficiais que estão no banco com camisolas facilmente confundíveis com aquelas que os jogadores de campo envergam.
Por pontos:
1) O anónimo das 20:44 respondeu à sua pergunta, Jorge. Teria de ser livre 7m;
2) Eu ia falar da campeonite, mas prefiro falar no fim... deixo a discussão no ar; :)
3) Equipamentos no banco:
Regulamento da zona de substituições:
3. Os oficiais de equipa na zona de substituição devem estar completamente vestidos com roupa desportiva ou civil. As cores que podem causar confusão com os jogadores de campo da equipa adversária não são permitidas.
Sobre o equipamento no banco, no meu caso em particular tenho estado vestido com as cores do clube, isto é, cor igual ao equipamento de jogo e não pediram para trocar. Mas também acho que não causa assim tanta confusão aos jogadores, até porque eles não vão passar a bola ao maluquinho que está ali a gritar :)
Outra coisa que ainda não compreendi é o uso da braçadeira de capitão.É novamente obrigatório por parte dos jogadores usarem-na?
(ainda aguardo o sr. Jorge Almeida ;P )
Mr. Mister,
não tenho uma definição de campeonite boa para caber num dicionário.
No meu entender, nos escalões de formação, deve-se fazer com que todos os praticantes divirtam-se jogando andebol, e confraternizem com os colegas e adversários.
Nos escalões de formação, tem de incutir-se a noção de "colectivo" (em contraponto com o natural "individualismo" que vem com cada pessoa), e que só actuando em colectivo, nomeadamente pondo em prática o que aprendem nos treinos, é que se ganham os jogos e ultrapassam-se as dificuldades.
Acontece que, quando temos um grupo de praticantes que treina bem, e joga bem, bem orientados por um treinador competente e bem formado, vai-se ganhando jogo-a-jogo, e isso cria expectativas no grupo e em quem rodeia o grupo (família, amigos, etc ...). Naturalmente, as épocas vão passando, e quem tinha 10 / 11 anos em pouco tempo tem 13 / 14 anos, e vai habituando-se a ganhar os jogos (mesmo nós, directores e treinadores, quanto mais os praticantes). Ponham-se na pele: no início, o resultado é o que menos interessa, no entanto, se ganharem sistematicamente os jogos, ao fim de 3 / 4 anos gostamos ainda menos de empatar ou perder. Por muito que não digamos nada aos praticantes, quem anda há anos connosco já nos conhece muito bem ...
Também é importantíssimo para o desenvolvimento das capacidades dos praticantes rodá-los em todas as posições, e dar-lhes minutos de jogo em quase todos os jogos, e dar-lhes cada vez mais à medida que vemos evolução. É que, no meio disto tudo, não podemos tratar todos por igual, pois é preciso destacar quem se esforça e melhora. Um exemplo: Quem vem aos treinos, joga, quem não vem não joga. Outro exemplo: Quem entrou de novo no grupo, e vem aos treinos, começa por jogar 5 minutos. Ao fim de alguns jogos, se verificarmos evolução, está a jogar 10 minutos, que podem passar a 15, e por aí fora.
Agora, imagine-se no meio dum jogo com pavilhão cheio, muitos familiares presentes, presidente da câmara (e demais autoridades) presente, pessoal a ter de estar disposto ao longo da linha lateral, num jogo em que, por muito que não houvesse título oficial, toda a gente nos passaria a chamar de "campeões nacionais". As famílias dos praticantes a falarem-lhes em "final", e por aí adiante ... E você, jovem de 17 anos, com o treinador com 19 anos (que, como praticantes, só fomos campeões nacionais escolares), vê-se numa situação que nunca lhe tinha ocorrido passar.
Acho que já deu para perceber que não sou daquelas pessoas que quer, acima de tudo, ganhar (tipo castigar os praticantes caso não ganhem). Mas imagine-se numa situação como esta, e ainda por cima com o que aconteceu no último minuto desse jogo, e penso que compreenderá a minha posição acerca da campeonite. É que, nisto como em tudo na vida, não se pode ter uma posição absoluta tipo "preto e branco".
Mr. Mister,
Respondendo à sua questão "Considera que a campeonite é boa nos escalões de formação??"
Claro que não!
No entanto, todos nós gostamos de ganhar os jogos, pelo que "pôr de lado" a componente "resultados" é irrealista.
Pelo que tenho visto ao longo destes 20 anos que tenho estado, +/-, ligado ao desporto em geral, e ao andebol em particular, uma equipa com um treinador que castiga os praticantes pelos maus resultados não vai longe. Mas também não vai longe a equipa que sistematicamente perde os jogos, e onde o treinador não tem mão nos praticantes.
Nota: Optei por falar em "praticantes", em vez de "jogadores" e "jogadoras", para realçar que isto pode acontecer quer numa equipa masculina, quer numa equipa feminina. A palavra "praticantes" não tem sexo.
(Eu percebi a duplicação, e está tudo tratado.)
Uma das minhas definições de campeonite: levar 14 infantis para um jogo e jogarem 7 ou 8.
Incutir espírito de vitória é essencial, mas é preciso fazer ver nessas idades que perder é igualmente educativo.
a) "Uma das minhas definições de campeonite: levar 14 infantis para um jogo e jogarem 7 ou 8."
Também acho.
Foi uma das coisas que falei.
Não se pode desenvolver as capacidades dos praticantes somente com treinos. Eles e elas, mesmo os mais pequenos e pequenas, querem jogar, nem que seja um bocadinho. Se não jogarem, desanimam e acabam por desaparecer.
b) "Incutir espírito de vitória é essencial, mas é preciso fazer ver nessas idades que perder é igualmente educativo."
Concordo, ainda mais quando se perde bem, ou seja, quando o adversário foi melhor, sem duvidas, que nós.
c) Ainda acerca da campeonite.
Gosto de ganhar jogos e campeonatos, mas não a todo o custo. Gosto quando os praticantes treinam bem, e aplicam no jogo o que aprendem no treino. Assim, é natural que ganhem mais do que percam.
Acho que isto tem muito a ver com ambição.
Ambição a mais é um problema. O que é demais é exagero.
Falta de ambição também é um problema.
c) Já vi boas referências à vossa exibição, ontem, aqui em Lisboa. É só ler os comentários à mensagem de hoje do Banhadas ...
Não pude aparecer, como tal não posso avaliar.
d) Ao ter descrito este episódio, aproveito para referir (e, ao mesmo tempo, homenagear), qual foi a jogadora directamente envolvida na situação, ou seja, quem se preparava para marcar golo em contra-ataque directo. Muitos a conhecem, já está trintona, e chama-se Celeste Viana. Uma excelente jogadora, e ainda melhor pessoa.
Só não digo quem era o clube adversário. Se o dissesse, para além de estar a ir contra as regras deste blogue, provocaria reacções do tipo "as voltas que o mundo dá"!
Bem para nos situarmos:
Sou um técnico dos escalões de formação, posição que adoro ocupar e dá-me imenso prazer.
Na minha curta carreira como treinador (apenas 7 anos) já tive o prazer e a sorte de participar em 2 fases finais de escalões jovens: Infantis e Iniciados masculinos.
Em ambas a minha equipa não venceu.
Quando se chega tão longe há sempre aquela esperança de vencer e de culminar uma época de sucessos e trabalho com uma vitória, com o título de "melhor do país".
Obviamente esse espírito foi incutido nos jovens atletas, de que era óptimo ganhar, e de que seria o final mais adequado para toda aquela experiência.
Porém não o conseguimos fazer, num caso com muita injustiça porque fomos os melhores e apenas factores extra desportivos impediram, sendo que no outro caso com mérito extremo do vencedor.
No ano de Infantis quando treinei aquela equipa travei uma batalha extrema com os pais. Porque? Apenas porque na minha equipa todos jogavam. E mais. Todos jogavam o mesmo tempo!
Em jogos de 50 minutos, cada atleta jogava 12 minutos e 30 segundos por parte.
E assim foi durante a época toda, com excepção de 2 jogos que houve uma rotação diferente por motivos de resultado, confesso, mas onde todos jogaram na mesma e nunca menos de 15 minutos.
E ainda assim conseguimos apurar-nos para a fase final e ir jogar contra e com os melhores.
Sim admito que na fase final a rotatividade já não foi a mesma, mas todos participaram, não na mesma medida como ao longo do ano, mas isso foi algo que a equipa toda decidiu e acatou muito bem porque naquela fase também queríamos ganhar.
E com tudo isto formou-se uma equipa, incutiu-se o gosto pelo andebol em 16 elementos (que pertenciam à equipa A daquela altura) foram dadas oportunidades para todos crescerem e desenvolverem-se dentro do Andebol.
Não imaginam o prazer que eu tive ao chegar ao fim e ver o percurso e perceber que a equipa tinha feito algo extraordinário e que tínhamos construído um grupo de trabalho como nunca vi e dificilmente voltarei a ver, mesmo tendo lutado contra todos porque o que queriam era "ganhar sem critério" e aprenderam a "ganhar com limites".
No fim foram outras situações que não o mérito desportivo que ditaram o vencedor. Foi frustrante, foi muito triste, foi um momento em que me senti também desorientado porque não conseguia amparar os atletas que estavam de rastos.
É por isso que discordo totalmente do ambiente de pressão a que os praticantes estão sujeitos. Pela família, pelos colegas, pelos treinadores, por todos os lados.
Tal como disse já o experienciei, e senti eu próprio na pele a expectativa e a pressão que se coloca nos praticantes tão novos para ganharem a todo o custo. Acho errado, apesar de saber que devem aprender a lidar com pressão desde novos, e penso que cabe aos treinadores e dirigentes dos clubes refrearem esta vontade obsessiva que alguns praticantes e principalmente sua família levam para os jogos.
Felizmente aprendemos a perder e que nem sempre é justo e correcto, mas ficamos claramente incomodados com actos extra desportivos que marcam sempre.
Compreendo que na sua história o que fica de amargo é o facto de se sentirem injustiçados por uma situação que apareceu extra jogo e que pôs em causa o resultado final. Aliás eu partilho da sua visão. É frustrante.
Também concordo quando diz que se deve incutir o gosto pela prática e pela vitória, porque sem objectivos não se estimula o praticante e dar o seu melhor. Concordo ainda com um factor simples: quem treina sempre e com afinco deve jogar mais do que não treina ou treina sem abnegação. Mesmo que a qualidade seja inferior.
E concordo ainda que quando se chega a um determinado patamar, o dos melhores, se sinta aquela necessidade ainda maior de ganhar e a expectativa gerada seja muita.
Afinal não estamos em desacordo, bem pelo contrário. Apenas penso que explicou-se mal no primeiro comentário.
As frases :"São estas situações porque deveriam passar as pessoas que falam de que não pode haver campeonite nos escalões de formação. É que isto dói imenso. Ainda me dói, passados mais de 15 anos." foram por mim mal interpretadas.
Não é que seja a favor daquilo que ambos achamos campeonite (partilho da sua opinião e do senhor administrador do blogue), mas aquela situação inusitada que viveu é que causa amarguras e concordo consigo: a quem não causaria? Sentir que o trabalho de anos foi posto em causa por uma situação exterior ao jogo...
Só discordo do facto de quando se está habituado a ganhar já não se consiga perder. Acho que depois de ganhar muito, saber perder ainda tem mais significado e deve ser entendido e explicado aos atletas, porque é muito mais difícil aceitar a derrota. Isso sim é um crescimento.
Demasiado longo, mas estava com vontade de discutir isto, peço desculpa Sr. Administrador
Desculpa???
Meu Deus, quem tem um discurso tão acertado e coerente, quem ama o Andebol, quem sabe ter discussões apresentando argumentos válidos para justificar os seus pontos de vista, como você e o Jorge, nunca devem pedir desculpa por falar tão bem!
É por conversas assim que me sinto sempre motivado a manter este espaço vivo!
E ainda bem que o mantém vivo, pois já tirei várias dúvidas e já aprendi muito sobre Andebol neste espaço. :)
Desculpas retiradas ;)
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