E porque nem sempre se tomam decisões corretas (ou, pelo menos, consensuais...), descrevo hoje uma situação que ocorreu num jogo meu já em 2012.
Numa bola disputada aos 6m, no preciso momento em que o Bruno assinala falta atacante, eu estou a apitar para livre de 7m.
Uma vez que as nossas decisões eram de sentidos contrários, fiz o que as regras mandam: mandei parar o tempo de jogo para que chegássemos a uma decisão conjunta. Para mim, a defesa estava com ambos os pés bem dentro da área, mas para ele a defesa foi arrastada para dentro pela ação da atacante.
Optámos pela marcação do livre de 7m, uma vez que eu insisti que a defesa estava dentro.
Justifico pela regra:
17:7 Se ambos os árbitros apitam para uma infracção, ou a bola saiu do terreno de jogo, e os dois árbitros mostram opiniões diferentes sobre qual equipa deveria ter posse de bola, então aplica-se a decisão conjunta que os árbitros alcançam depois da consulta entre si. Se não conseguem alcançar uma decisão comum, então prevalecerá a opinião do árbitro central.
É obrigatória uma paragem de tempo. Durante a consulta entre os árbitros, eles farão o gesto de forma clara e, depois do sinal de apito, o jogo é reiniciado (2:8d, 15:5).
E como é que estas coisas acontecem com uma dupla que apita junta há 12 anos? Não deveria já haver uma coordenação maior entre a dupla?
Há coordenação, uma vez que temos a mesma leitura do jogo e do seu espírito, temos a mesma visão do Andebol e das Regras, mas estas coisas vão sempre acontecer, independentemente do treino que se tenha. Pode acontecer a qualquer momento, num jogo de maior ou menor relevância competitiva. Deseja-se é que aconteça poucas vezes ou quase nunca, o que felizmente é o caso.
Estas falhas acontecem por simples precipitações ou diferentes ângulos de visão, porque um dos árbitros olha de repente para o local da falta e pode não ter a leitura 100% correta do lance, por qualquer outro motivo...
Neste caso particular, apesar de eu ter insistido que a defesa estava dentro, faço agora uma leitura do lance mais pausada e concluo que posso não ter tido razão. O contacto dá-se com o corpo da defesa a bloquear a minha visão do lance, e isso impediu-me de ver o momento de início do contacto.
Se o contacto começou fora, como o Bruno alega, ele tem razão e deveria ter sido falta atacante, com a consequente inversão do sentido de jogo.
Se o contacto começou dentro, como eu alego, eu tenho razão e a decisão certa foi tomada.
Felizmente, este (possível) erro não teve qualquer relevância no resultado final.
8 comentários:
Esta parte da Lei é muito importante:
"Se não conseguem alcançar uma decisão comum, então prevalecerá a opinião do árbitro central".
Não percebi, na sua narração, quem estava como árbitro central mas, a lei é clara.
Quanto aos desafazamentos nas decisões dos árbitros, são perfeitamente admissíveis, apesar de não aconselháveis.
Já agora, ainda bem que essa decisão não teve relevância no resultado final.
Um abraço
Eu marquei o livre de 7m, era eu que estava como árbitro de baliza. O central era o Bruno.
Neste caso prevaleceu a minha decisão, porque chegámos a um consenso rápido, e é isso que se pretende. Se não tivessemos chegado, seria a decisão dele a prevalecer.
Um abraço.
Ora aqui está uma situação que pode parecer bastante complexa.
Segundo o nosso amigo Observador:
"Se não conseguem alcançar uma decisão comum, então prevalecerá a opinião do árbitro central".
Aqui o que aconteceu foi que apesar do Bruno ser o arbitro central, prevaleceu a decisão do Carlos.
Ora,o inicio da frase é muito esclarecedor " Se não conseguem alcançar uma decisão comum", e numa dupla categorizada e com tantos anos de trabalho juntos é evidente que sairá sempre uma decisão comum.
Contudo, para quem vê de fora, o facto é que se vê duas decisões diferentes e só uma vai beneficiar a nossa equipa, logo no caso de não ser essa a tomada temos contestação garantida.
Deixo aqui uma pergunta no ar!
"Embora podendo ser errada a decisão, não seria mais fácil a lei ser explicitada e restringida nestes casos, ou seja, apesar de poder estar errada não seria mais defensora da equipa de arbitragem, retirar a parte do consenso e explicitar concretamente qual a decisão que prevaleceria nestas situações?
Abraço
Esclarecido.
Obrigado e um abraço.
A questão do consenso surge na necessidade de procurar a decisão o mais correta possível.
Muitas vezes, pelos mais variados motivos, não se tomam as melhores decisões. Quando um dos dois tem uma melhor visão do lance, é normal que prevaleça a sua decisão.
Quando ambos estão irredutíveis na sua decisão, então aí aplica-se a lei e prevalece a decisão do árbitro central.
Este tipo de lance dá muito nas vistas, porque ambos apitam, mas imaginemos outro lance. Quantas vezes acontece, num jogo, haver um remate aos 9m e, quando o árbitro de baliza está a (ou vai) fazer o gesto de lançamento de baliza, o árbitro central está a apitar falta? Várias...
E isso acontece porquê? Porque o árbitro de baliza não está a seguir a bola (ou, pela técnica de arbitragem, não deveria fazê-lo sempre...), e o que vê é um remate falhado. Prevalece a decisão do árbitro central.
Da contestação... em nenhum caso nos safamos.
Já agora e se me é permitido, apesar das regras falarem no aspecto de prevalecer a decisão do árbitro central, nem sempre essa poderá ser a decisão ideal.
Assim, o consenso é a melhor 'arma'.
E se fôr estabelecido sem que público e jogadores dêem por isso, já que a conversa entre a dupla é feita junto à marca de 7 metros, o consenso surgirá tranquilamente, sem problemas.
Grato pela autorização de interpelação ... sem pedido de 'time out'.
Um abraço a ambos.
Acho que as regras falam na prevalência da decisão do árbitro central apenas para definir um desbloqueador de último recurso.
Já agora... nem sempre será fácil atingir um consenso rápido, mas pretende-se que tal aconteça. Uma demora excessiva é tão ou mais prejudicial que uma decisão errada, pois para ganhar um lance, pode perder-se um jogo.
Um abraço.
Nem mais, Carlos.
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