quarta-feira, 27 de junho de 2012

A ARTE DE NÃO COMPLICAR

Ok, reconheço que este não é, de todo, um tema exclusivamente andebolístico. Mas é sempre pertinente abordá-lo, até porque pode dar (ou não) ao leitor uma perspetiva diferente das coisas. Em muito do que faço, batalho sempre por isso: dar uma perspetiva diferente...

Muitas vezes comentamos entre amigos, lemos no jornal, ouvimos no rádio ou vemos na tv, que o árbitro X apitou bem "mas também o jogo não foi complicado", e que "se aquilo aquecia não sei se ele tinha unhas para os segurar".

Poucas vezes, através dos mesmos meios, nos chega aos ouvidos que o árbitro X apitou bem "e ainda por cima controlou o jogo", que "não foi preciso mostrar muitos cartões" ou que "só atuou disciplinarmente quando foi preciso".
Ainda vamos apanhando destas frases, mas infelizmente ainda são exceções.

Antes de continuar a dizer o que penso, permitam-me um olhar sobre a prestação do Pedro Proença no Euro 2012.
Não é novidade para ninguém que é um excelente árbitro, que os jogos que dirigiu tiveram poucos lances de enorme dificuldade de ajuizamento, que os jogadores foram colaborando (prometo voltar a esta questão neste post ou num próximo)... mas quantos lhe deram o mérito de ter sido brilhante na "arte de não complicar"?

Para quem pensa que "não complicar" é fácil, informo que nem sempre assim é.
Há imensas condicionantes que afetam a qualidade de uma arbitragem: o apito no momento certo, o azar de cortar inadvertidamente um lance de perigo numa vantagem mal dada, o correto posicionamento, o azar de um jogador nos passar à frente num momento crítico, a manutenção da concentração necessária ao longo de um jogo, um sem número de situações que nos pode perturbar significativamente o trabalho...

"Não complicar" é dirigir com mestria, é atuar quando estritamente necessário, é CONFIAR NOS JOGADORES, que são as estrelas de qualquer jogo!
Também por isso, devem ter mais responsabilidade do que efetivamente têm. Mas não vou entrar por aí...

Ninguém mais que o árbitro tem interesse em que o jogo decorra sem casos. Quem disser o contrário não sabe o que está a dizer.
O árbitro é o primeiro a não querer aparecer, pois sabe que se se falar de si, a esmagadora maioria das vezes não é para falar bem! E é por isso que o árbitro deve apostar, a meu ver, na "arte de não complicar", e isso é extremamente exigente, por todas as razões e mais alguma. Quanto mais não seja, porque há sempre alguém disposto a apontar o dedo. Voltando ao Pedro Proença, após 3 jogos mais 1 prolongamento de elevadíssima categoria e de brilhantismo na "arte de não complicar", o que é que os media em Inglaterra iam dizer se o Bertino Miranda não assinala aquele fora de jogo a escassos minutos do Itália x Inglaterra ir para penalties?

2 comentários:

João Santos disse...

Antes de mais deixe-me dizer-lhe que é dos árbitros do meu desporto preferido, que gosto de ver apitar. Ao contrário, quanto a emitir opinião não gostei mesmo nada. Não tem visto os mesmo jogos que eu, ou então é muito corporativista. O Proença, bom árbitro? Ou o árbitro indicado para "moço de recados"? Por acaso não viu porque a Itália está ne final? 2 apenas 2 penaltis por marcar a favor de Inglaterra. Não viu? Acha que ele não viu? Não é normal ser um árbitro de nacionalidade das selecções presentes nas meias finais. Porque será que se abriu esta excepção?Eu arrisco que... não havia melhor moço de recados. Eles, os Platinis, acompanham bem o Campeonato Português. Arrisco mais. Qualquer coisa me diz que a Espanha anda a ganhar coisas demais.

Carlos Capela disse...

Antes de mais, agradeço a sua opinião acerca do trabalho que desenvolvo nos pavilhões. É muito importante para qualquer pessoa sentir-se reconhecida na sua atividade.

Quanto à minha opinião acerca do Pedro Proença, é sincera e com base naquilo que vi dos jogos que ele fez no Euro, em que foi claramente dos árbitros que melhor aplicou as leis do jogo, permitindo aos jogadores serem as estrelas e não intervindo quando não era necessário.

Não sou corporativista, mas defendo os árbitros o mais que posso. Choca-me que sejamos sempre nós os culpados de tudo, capazes de manipular resultados e fazer favores.

Falou em 2 penalties por marcar. E a exibição da Inglaterra? Por acaso foi boa? Ou não viu o mesmo jogo que eu?