sexta-feira, 1 de março de 2013

JOGOS DE MINIS

Este post é uma visão totalmente pessoal e não espero que toda a gente concorde comigo.
Aliás, quem acompanha regularmente este blogue, sabe que amiúde coloco aqui as minhas opiniões pessoais. Mais que um espaço onde as regras são debatidas literalmente, aqui no Andebol e Arbitragem podem discutir-se pontos de vista. E isso é prova que nem eu, nem quem aceita debater visões diferentes, nem o Andebol são estanques. Só com o debate e a partilha de ideias podemos evoluir. No Andebol e na Vida.

Muito raramente dirijo jogos de minis, mas quando sou nomeado faço-o com todo o gosto e com o mesmo respeito pelas crianças. Seria hipócrita se dissesse que gosto mais de apitar um jogo destes do que um da 1ª divisão, mas isso não influi em nada na minha postura e no respeito com que encaro o jogo. Modéstia à parte, fossemos todos assim.

A minha opinião sobre estes jogos é que são completamente diferentes dos outros. Crianças de 8 ou 9 anos não devem jogar sob a pressão do "resultadismo" e da "campeonite". Não devem jogar SÓ para ganhar, mas TAMBÉM. A vitória, neste escalão, deve ser absolutamente secundária, e apenas um complemento ao divertimento e ao prazer de, mais que praticar Andebol, praticar Desporto. É aqui que os miúdos ganham o prazer de correr e conviver, de procurar a bola, de fazer algo saudável em conjunto com os seus amiguinhos.
Faço uma vénia aos treinadores, oficiais, adeptos e pais que encaram estes jogos com fair-play. Não consigo, de todo, compreender quem está nestes jogos só para ganhar, quem protesta decisões dos árbitros, quem faz trinta por uma linha para ganhar um jogo... DE MINIS!

E vêm agora os dois pontos que posso considerar mais passíveis de causar polémica/discordância neste meu post:

1. Sou completamente intransigente para os Oficiais das equipas que protestam sucessivamente as minhas decisões nestes jogos. Os miúdos têm todo o crédito do mundo, os graúdos não. Com os miúdos tento conversar e explicar as regras, com os graúdos a minha tolerância é muitíssimo mais reduzida. 
E isto não é porque me quero fazer mais importante do que sou, mas sim porque entendo que um Oficial deve apenas e só preocupar-se com os seus miúdos, e não com as decisões das equipas de arbitragem.
Muitas vezes, estes jogos servem também para dar formação a árbitros. Se os jovens jogadores não nascem ensinados, também os jovens árbitros precisam de apitar jogos para poderem aprender com os erros. Sempre que possível, os árbitros mais velhos deverão dirigir estes jogos com árbitros mais novos. Não só podem, assim, dar um melhor acompanhamento ao árbitro jovem, mas também podem corresponder à obrigação de ajudar os jovens atletas a crescer no andebol, através de performances que se esperam ser de maior qualidade.

2. Acho que nestes jogos, as regras devem por vezes ser contornadas. Explico isso com um exemplo de algo que eu fiz há algumas semanas, num jogo de minis.
Um atleta muito pequenino, possivelmente dos mais novos da equipa, entrou na 2ª parte. Viu-se logo que tecnicamente era muito fraco e inexperiente (como a maioria, mas pronto...). Passaram-lhe a bola e ele ficou sem saber o que fazer com ela. Driblou. Agarrou-a. Driblou.
Apitei e parei o jogo. Aproximei-me dele e disse:
- Sabes o que fizeste?
- Não posso driblar depois de a agarrar, pois não?
Expliquei-lhe o que são os dribles e aquilo que ele pode e não pode fazer. No fim, perguntei-lhe em tom de brincadeira:
- Queres a bola outra vez? Mas olha que fico chateado contigo se voltas a fazer dribles!
Ele percebeu que eu disse aquilo a rir e riu-se também para mim. Dei-lhe a bola outra vez e o jogo recomeçou. O miúdo não fez mais dribles nenhuns até ao fim do jogo e isso fez-me sentir que valeu a pena contornar as regras naquele momento, porque ajudei a formar um miúdo.
Sinceramente, não sei se alguém protestou comigo por causa disso. Sei que no fim ninguém se queixou. Mais uma vénia a quem compreendeu o que eu fiz.

Como disse no início, não espero que este post seja unânime.
É apenas a minha visão dos jogos de um escalão em que os resultados, para mim, valem próximo de zero.

6 comentários:

Luis Freitas disse...

Amigo Capela,
Concordo com o teu ponto de vista, mas não na totalidade o que já é de esperar visto que nem sempre todos pensam dessa forma.
Concordo que neste escalão o principal não é vencer, mas sim participar. É claro que se conseguirmos juntar as duas vertentes melhor, não só para quem orienta mas também para quem participa. Por vezes achamos que estes miudos pela sua tenra idade não ligam ás condicionantes do jogo, o que é completamente falso e por vezes é dificil explicar o porquê de certas coisas. Sou da opinião que somos nós como técnicos que depois temos de saber gerir a situação e controlar aquilo que acharmos que possa estar a ultrapassar os limites do razoavel, e saber quando cortar o exagero de algumas dessas situações, o que não é fácil e nem todos o sabem fazer.
Relativamente ás arbitragens destes jogos, compreendo que cada vez é mais dificil arranjar pessoal para esse efeito, dai recorrer-se muito ao pessoal da casa, mas isso nem sempre é bom. Novos ou não e apesar destes jogos servirem de experiência há sempre aquele pensamento de beneficio caseiro. Por vezes isso mesmo para nós graudos nem sempre é dificil de controlar e também isso difere da forma e interpretação de cada um. Ainda há pouco estivémos em Cernache num jogo de Infantis, onde jogam por vezes bastantes minis, e não foi fácil controlar-me apesar de toda a minha experiência e de certa forma a minha maneira de ser no juizo das duplas que apitaram. Existem muitas vezs situações identicas que não são interpretados da mesma forma, e claro indirectamente queiram ou não, o beneficio é para os da casa e isso por vezes é o rastilho para certos exageros que os graudos tambem cometem. Quantos árbitros fariam como tu, interromper um jogo para explicar algo aos miudos? Conheço muito poucos mas também há que reconhecer que também vós árbitros, humanos como nós, também por vezes exageram e abusam na abordagem de algumas situações, e nesse aspecto falo por experiência que existem duplas que nem um "ai" se pode fazer.

Carlos Capela disse...

Mas eu não estou a dizer que não é normal os adultos reagirem mal em alguns momentos. Eu próprio tive uma reação que não posso ter há poucas semanas num outro jogo. Saltou-me a tampa perante uma imbecilidade de uma pessoa, mas não posso fazer o que fiz.
Por isso, não critico reações. Critico o encarar-se este jogos como jogos "normais", no que toca à exigência para com miúdos e árbitros.

No que toca aos árbitros "da casa"... bem, não há soluções perfeitas. Mas eu concordo em absoluto que em jogos de minis, se não houver árbitros "federados" disponíveis para fazer o jogo, então gente da casa (normalmente atletas juvenis ou juniores) podem apitar esses jogos na boa.

Muito má pessoa é quem, ao apitar um jogo destes, toma uma decisão errada conscientemente por causa do emblema que cada miúdo traz na camisola!

Jorge Almeida disse...

Sr. Eng., quanto ao "resultadismo", já sabe a minha opinião: completamente de acordo com o que escreveu; mas, não sei se se lembra, aqui à uns tempos, descrevi uma situação sobre isso aqui no "Andebol e Arbitragem" em que, quer o Sr. Eng., quer os restantes leitores do blogue, concordaram em que é complicado não ceder à ânsia pelo resultado, mesmo em escalões jovens, que é quando se está a disputar a final dum campeonato nacional. O caminho para lá chegar é muito longo, envolve muitas horas de preparação do treino, do próprio treino, do jogo, etc ... que o stress é enorme.

O Sr. Eng. não pode ignorar que o aparecimento, neste tipo de jogos de escalões jovens, dum árbitro reconhecido por arbitrar muitos jogos da PO01, leva a que os oficiais sejam mais contidos ao nível das reclamações. Este seu episódio fez-me lembrar um que decorreu em Ermesinde, concelho de Valongo, quando, no Regional de Iniciadas Femininas do Porto (ainda não havia Campeonato Nacional), na 3ª onda, se disputou uma das jornadas em regime de concentração, em que, num dos jogos, a equipa onde era director (oficial, como agora se diz), a Juve Mar, e que tinha vencido o Encontro Nacional (o Campeonato Nacional "oficioso") ia jogar contra o Colégio de Gaia, finalista vencido desse Encontro Nacional. Pois bem, para nossa surpresa, quem apareceu para arbitrar essa jornada em concentração foi o Sr. Árbitro José Macau, em conjunto com um outro Sr. Árbitro que não reconheci. Nem imagina o nosso espanto quando o vimos equipado com as insígnias da IHF para um jogo de Iniciadas ... Quando apareciam àrbitros, eram dos quadros do Regional, e uma vez por outra, do Nacional. Agora IHF ... A minha equipa até nem tinha por costume reclamar muito das decisões dos árbitros, mas, à cautela, o treinador disse-lhes no balneário que, para o árbitro, "nem piu". Macau, quando se apercebeu que tinha o jogo na mão, passou pelo nosso banco, e, para nosso espanto, perguntou às jogadoras se estavam a gostar do jogo. O espanto pela situação foi tão grande que as raparigas nem souberam articular uma resposta, e vieram perguntar ao treinador o que fazer, ao que este respondeu que respondessem delicadamente com verdade. O treinador até nem tinha percebido a pergunta, eu é que lhe contei o que se estava a passar. Ele olhou espantadissimo para mim. O Prof. Fernando Maurício Ribeiro, irmão mais novo do Prof. Manuel Ribeiro, que, como atleta, tinha ganho o Nacional da 1ª e da 2ª divisão de Seniores pelo ABC, já tinha visto muita coisa, mas nada do género. A propósito, ganhamos o jogo, salvo erro por 16x10.

Jorge Almeida disse...

Falta referir que não me lembro de nenhum erro de arbitragem nesse jogo (mas o Sr. Eng. já sabe que eu, quando vou para jogos de Andebol, é para ver o jogo e não, por exemplo, se a dupla de arbitragem fez as trocas posicionais sem que ninguém se apercebesse).

Também falta referir que esse jogo foi na época 98/99, e que, a partir daí, fiquei fã do Sr. Árbitro José Macau.

Jorge Almeida disse...

Fora de tópico:

Lista de transmissões de jogos de Andebol na TV, Internet e Rádio previstas entre 4 e 10 Março 2013:

http://andeboltv.blogspot.pt/2013/03/lista-de-transmissoes-entre-4-e-10.html

Carlos Capela disse...

Concordo que o aparecimento de um árbitro que as pessoas conhecem da televisão e/ou de ver apitar jogos mais mediáticos, leva à diminuição dos protestos. Isto traz algumas consequências:

1. Os árbitros "reconhecidos" têm OBRIGAÇÃO de respeitar da mesma maneira os intervenientes dos jogos de escalões mais baixos. Nós, aqui em Aveiro, formamos os árbitros para que respeitem todos os jogos da mesma forma. Um dos nossos cavalos de batalha sempre foi "obrigar" os árbitros nacionais e não entrarem relaxados nos jogos regionais, nomeadamente nos jogos de camadas jovens. Vamos conseguindo.

2. Por verem um árbitro "reconhecido", mais um motivo para as pessoas se concentrarem no jogo e nos miúdos, deixando de lado a atuação dos árbitros.

3. Os miúdos podem aproveitar para curtir mais o jogo, assim os graúdos os instruam para tal. Não adianta um árbitro de qualidade reconhecida dirigir um jogo destes, quando são os adultos a ter uma postura incorreta. Isso arrasta invariavelmente os mais novos.

A respeito dessa história do Macau, tenho outra para contar.
Há cerca de 2 ou 3 anos, não sei, fui dirigir um jogo de minis a S. J. Madeira. Um dos treinadores disse às miúdas para prestarem atenção a tudo o que eu dissesse e para me fazerem perguntas se fosse preciso durante o jogo.
Elas assim fizeram e por algumas vezes, bastava eu aproximar-me de uma defesa para lhe dizer que tinha de estar a 3m do local da falta, para ver as crianças aproximarem-se de mim.
Adorei a experiência!