quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

JOGO PASSIVO EM DEFESAS HxH

Há uns dias recebi o seguinte comentário, que transcrevo parcialmente por me parecer ser um tema interessante para discussão:

"O jogo passivo no HxH (digo ja que esta situaçao aconteceu consigo) por estrategia sempre que existe HxH peço a minha equipa para organizar o ataque aproveitado o campo todo, isto é recuar para depois ter mais espaço para progredir no campo. Apos reposiçao da bola em jogo do meio campo recuaram o que marcaram jogo passivo. Tinha ideia que na marcação HxH não havia passivo. Obrigado desde ja."
A minha resposta foi:
"Claro que numa situação HxH, o padrão "normal" de jogo é completamente alterado, mas os princípios básicos mantêm-se. Não há nada que impeça a sinalização de jogo passivo perante uma defesa HxH. E é como disse, um passe para trás, seja para ganhar espaço de ataque ou para perder tempo, é muito contra-natura e facilmente confundível com anti-jogo.
Além disso, vamos pensar da seguinte forma... o levantar do braço é um aviso feito à equipa de que está a incorrer em jogo passivo, e dá a oportunidade de organizar rapidamente um ataque à baliza. Neste caso concreto, é um aviso de que «recuar não vale»..."
Baseio-me agora no livro de regras, mais concretamente no Esclarecimento nº4, para fundamentar a minha opinião sobre o assunto.
  • "(...)
    Os métodos passivos de jogo podem surgir em todas as fases de um ataque de uma equipa, por exemplo, quando a bola é movimentada na transição da defesa para o ataque, durante a fase de construção do ataque ou durante a fase de finalização do mesmo.
    O jogo passivo é frequentemente utilizado nas seguintes situações:
    - uma equipa está a ganhar por uma diferença reduzida perto
    do fim do jogo;
    - uma equipa tem um jogador excluído;
    - quando a defesa do adversário é superior."

Neste primeiro excerto, transmito a ideia de que o jogo passivo não tem momento para ocorrer. O facto de, no caso específico que motivou esta discussão, o jogo passivo ter sido assinalado após o lançamento de saída, não retira validade à acção. Ou seja, nada impede o árbitro de sinalizar passivo após o lançamento de saída, se este entende que o "jogar para trás" é um método pouco atractivo (expressão usada no livro, não por mim) de ataque.
Se considerarmos que a defesa HxH é uma defesa agressiva (que é) e que altera a forma de atacar do adversário (que altera), inclusivamente obrigando-o a recuar no terreno para poder ganhar mais espaço de ataque, então podemos estar na presença de uma superiorização da defesa em relação ao ataque (o que não invalida que após o recuo o ataque não possa vir a ter sucesso).

  • "Indicações típicas:
    - (...);
    - um jogador joga a bola de volta para o seu meio campo , mesmo que não esteja a ser pressionado por nenhum adversário;"

Sim, é verdade que a defesa HxH é uma defesa pressionante, mas o acto de passar a bola para trás é motivo para sinalização de jogo passivo.
Aqui, convém distinguir um passe intencional de um mau passe. Não concordo que mal ocorra um mau passe para trás se sinalize logo jogo passivo, contudo deve solicitar-se à equipa que ataque mais rápido. Mas não é esta a situação em causa. Neste caso, a intenção de passar a bola para trás faz toda a diferença. Além de que um árbitro não consegue saber se a intenção posterior da equipa é ganhar espaço ou perder tempo...

  • "Indicações típicas de uma fase de construção excessivamente longa são:
    - acções defensivas activas: os métodos defensivos activos que quebrem o ritmo de jogo dos atacantes, porque os defesas bloqueiam os movimentos previstos da bola ou impedem os movimentos tentados pelos jogadores atacantes;"

As acções defensivas activas devem ser "premiadas". Com isto, não quero dizer outra coisa que não seja a obrigatoriedade de colocar em "igualdade" a defesa e o ataque. É menos "contestável" marcar uma falta ao defesa, a discussão que gera é menor, mas temos (nós, árbitros) de permitir que as defesas activas, que procuram a posse de bola de uma forma mais intensa, não sejam prejudicadas por isso.

  • Recorro agora à regra 7:12:
    "7:12 Quando é reconhecida uma tentativa de jogo passivo, o sinal de advertência de jogo passivo (sinal manual nº 18) é mostrado. Este sinal dá à equipa que tem a posse da bola a oportunidade para mudar o seu modo de atacar de modo a evitar a perda da posse."

Como disse na minha resposta inicial, o sinal de aviso de jogo passivo é uma forma de recomendar à equipa atacante não só que ataque rapidamente nessa posse de bola, mas que mude o seu estilo de ataque na próxima. Se não o fizer, o árbitro deve voltar a sinalizar jogo passivo.

Deixo agora uma nota. Este tipo de situações são óptimas para se discutir. O facto de eu estar a transcrever passagens do livro de regras, comentando-as depois, quer dizer apenas que estou a tentar fundamentar as minhas opiniões e - como é neste caso - as minhas decisões em campo.
Não me estou a "justificar", como alguns podem entender, mas sim a discutir lances, porque eu próprio posso estar enganado.
Como disse no outro dia, recordo-me deste lance ocorrer, mas não me lembro em que jogo foi (penso que foi um jogo que fiz na zona da Maia, mas não tenho mesmo certeza). Por isso, estou à vontade para felicitar o autor do comentário/dúvida pela frontalidade e pela correcção com que o fez.

9 comentários:

Anónimo disse...

Ola senhor capela
pegando no ponto da regra, acerca do sinal de advertencia de jogo passivo-"Este sinal dá à equipa que tem a posse da bola a oportunidade para mudar o seu modo de atacar de modo a evitar a perda da posse."
Por quanto tempo e essa oportunidade??.... E esta questão que muitas vezes, nos treinadores não sabemos, e depende muito do criterio dos arbitros, na minha opinião deveria ser elaborado algo mais concreto acerca deste ponto nas regras!
gostaria que comentasse!
abraço :)
Raul

Carlos Capela disse...

No livro de regras está escrito que os árbitros devem permitir "uma fase de construção" do ataque, após levantarem o braço a sinalizar o passivo.
Por "fase de construção", entende-se comummente uma circulação de bola, ou seja, cerca de 5 passes. Se aí não há um remate à baliza ou uma tentativa declarada de o fazer, deve-se inverter o sentido de jogo.
Sim, é uma regra muito subjectiva, mas não sei se seria fácil arranjar algo mais concreto...

Abraço.

Anónimo disse...

Isso quer dizer que temos cerca de cinco passes para fazer depois de o braço ser levantado, aumentando o ritmo de jogo, ou seja mais atacante. Não é?
Mas na verdade o que acontece é que os arbitros nao permitem mais de um passe, mesmo com o aumento do ritmo de jogo. Se surgir um segundo passe normalmente é assinalado passivo.
Nos jogos quando o braço é levantado, torna-se "quase como um sinal de obrigação de remate" pressionando o jogador com a bola a rematar.
Isto é diferente dos 5 passes.

Carlos Capela disse...

Peço desculpa por só responder agora. Não tive hipótese de vir à net no fim-de-semana.

Acredito que possa haver más interpretações do sinal de jogo passivo por parte também dos árbitros.
A verdade é que não deveria ser obrigatório rematar de imediato quando o braço é levantado. O que é obrigatório é fazer um ataque rápido! Como disse antes, a equipa tem oportunidade de mudar o seu estilo de jogo durante alguns segundos, os suficientes para fazer uma rápida circulação de bola. Daí os cerca de 5 passes.

Anónimo disse...

o que e o jogo passivo?

Anónimo disse...

Boa noite Sr. Capela.
Tenho uma dúvida sobre esta regra do jogo passivo.

Quando um árbitro levanta o braço a indicar jogo passivo e a equipa tenta mudar o estilo de jogo, mas por exemplo, a equipa atacante faz um passe e o defesa faz falta sobre esse jogador, e assim sucessivamente, mais duas ou 3 vezes, como é que devemos fazer?

Muito obrigado.
Continue o excelente trabalho.

Carlos Capela disse...

Muito obrigado pelas suas palavras!

Estes casos são sempre de difícil gestão. Devemos premiar uma defesa eficaz, que impede que o adversário crie situações de golo, mas também não podemos permitir que a defesa atue de forma ilegal, recorrendo sistematicamente à falta.

Quando a defesa acaba por fazer faltas ditas "normais", tal como parar pela frente um jogador que vai rematar, deve-se levantar o braço ao fim de alguns passes.
Mas se a defesa recorrer permanentemente ao agarrar sucessivo, apenas com a intenção de impedir a outra equipa de conseguir, sequer, uma circulação de bola, então o árbitro deve punir disciplinarmente a equipa defensora.

Não são situações fáceis de arbitrar, e muito menos de explicar. :)
Mas espero ter ajudado.

Anónimo disse...

Sim ajudou imenso :)
Obrigado!

Carlos Capela disse...

Ótimo. :)

Qualquer questão que surja, disponha.